São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994 |
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Bolsistas não recebem há 43 dias
DA REPORTAGEM LOCAL Erramos: 20/10/94Os bolsistas do CNPq não recebem desde 5 de outubro e não 5 de setembro, conforme foi publicado. Três parágrafos saíram repetidos. Os 42 mil bolsistas do CNPq estão sem receber o pagamento de setembro desde o último dia 5, ou seja, há 43 dias. A liberação da verba depende da aprovação do orçamento (leia texto abaixo). Os bolsistas do CNPq no exterior ainda não foram afetados pelo atraso porque o pagamento é feito trimestralmente. O próximo deve ocorrer apenas em novembro. O atraso no pagamento das bolsas pode afetar a produção científica e levar os pesquisadores a abandonarem mestrados e doutorados. O reitor da Universidade de São Paulo, Flávio Fava de Moraes, enviou um protesto contra o atraso dos pagamentos ao presidente da República, Itamar Franco, na quinta-feira passada. ``A situação dos bolsistas está muito difícil. Alguns deles são casados, têm filhos e não têm mais dinheiro para pagar o aluguel ou para comprar um livro", diz Fava. Segundo o reitor, a falta de dinheiro afeta o ``equilíbrio psicológico" dos bolsistas, o que tem refletido ``negativamente" na produção intelectual da USP. Para o pós-graduando Carlos Henrique Batista, representante do doutorado de bioquímica da USP, ``essa área não é prioridade". ``Nosso trabalho contribui para a sociedade. Quando recebemos a bolsa, assinamos um contrato pelo qual nos comprometemos a dar dedicação exclusiva à pesquisa", disse Rozanna Muzzi, 29, que faz doutorado no Instituto de Química. Para Rozanna, parar os trabalhos significa ``no mínimo três anos de desperdício". Ela disse que há nove anos está na USP estudando, mas vai desistir. Rozanna recebe R$ 835,70 por mês. ``Só consigo me manter porque moro no Crusp, mas agora já vou ter que começar a pedir dinheiro emprestado. Tenho que mandar dinheiro para meus pais, tenho diabetes e glaucoma (doença caracterizada pela dureza do olho devido ao aumento de tensão intra-ocular) e preciso tomar remédios", disse. ``A situação sempre se repete. Até a faixa que usamos nas manifestações e protestos contra atrasos de pagamentos é a mesma há dois anos", disse Alexandre Pimenta, que faz doutorado em Física. O pesquisador, Benedicto Anselmo Domingos Victoriano, 47, doutorando em Ciências Sociais da PUC de São Paulo (Pontifícia Universidade Católica), mora em Jacareí e afirmou não ter mais dinheiro nem para pagar a passagens de ônibus até a universidade. A orientadora Helena Ferraz disse que já é normal emprestar dinheiro aos alunos. ``Na França, os orientadores tem uma reserva para estudantes de terceiro mundo." A pesquisadora Mônica Rocha, 29, também do Laboratório de Síntese de Produtos Naturais, tem uma filha de três anos e diz que depende da bolsa para se sustentar. Texto Anterior: Catadores comem comem ratos em Pernambuco Próximo Texto: Pesquisadores ameaçam parar Índice |
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