São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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O estilo FHC

CLÓVIS ROSSI

MOSCOU – Fernando Henrique Cardoso está decidido a restaurar ao máximo o que se costumava chamar de majestade do cargo, um certo ar imperial, como a palavra indica, da função de presidente da República. Fernando Collor confundiu majestade do cargo com espetáculo. Itamar Franco é simples e humilde demais para tentar criar uma certa aura em torno da Presidência.
Para começar a exercitar a majestade, FHC fez saber aos jornalistas que cobrem sua visita a Moscou, de caráter particular, que não gostaria de ser a todo instante abordado com perguntas sobre assuntos brasileiros. Acha que o que tinha que dizer, depois da vitória, já foi dito na sua entrevista coletiva da semana passada.
Em todo o caso, o presidente eleito se reserva para voltar a falar na sua despedida do Senado, tão logo seja proclamado. Antes disso, nada. Ontem, por exemplo, ficou mais de três horas passeando por Moscou, sem segurança alguma, cercado por jornalistas. Conversou e brincou muito com todos eles, mas não se falou de política interna um só momento.
FHC preferiu vestir a roupagem de intelectual, na qual fica inteiramente à vontade. Em plena praça Vermelha, outrora coração do hoje falido império soviético, o intelectual FHC voltou-se para o Museu da Revolução e lembrou-se de Walter Benjamin, ensaista autor de ``O Diário de Moscou", uma espécie de roteiro cultural da capital revolucionária.
Contou até que, muitos anos atrás, tentou refazer o roteiro que lera em Benjamin, mas não conseguiu. ``A cidade mudara muito e, sem entender russo, fica difícil", comentou.
Em seguida, mostrou o orgulho de ter recebido carta de cumprimentos da Universidade de Nanterre (França), na qual lecionou quando era um centro de agitação. Filosofou: ``São raros os casos de intelectuais que chegam à Presidência".
Resta saber, agora, até quando consegue manter o estilo.

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