São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Urnas alemãs

O resultado da eleição alemã deste fim-de-semana reafirma a tese, quase universal, de que as pessoas votam com o bolso. A provável condução do chanceler Helmut Kohl a seu quarto mandato consecutivo parece estar indissociavelmente ligada à relativa melhoria das condições da economia alemã.
De fato, há um ano, quando a Alemanha ainda vivia os amargos efeitos de uma recessão agravada ainda pelos custos da reunificação, todas as sondagens de intenção de voto e a maioria dos analistas políticos davam o desastre eleitoral de Kohl como favas contadas. Uma relativa recuperação da economia, porém, garante aos conservadores mais um período à frente do governo, ainda que com escassa maioria.
Mesmo com o forte desemprego na parte oriental, a Alemanha exibe índices de desocupação inferiores, por exemplo, aos da França, Itália, Canadá, e Bélgica, países que, em eleições recentes, experimentaram acachapantes vitórias da oposição.
De qualquer forma, a vitória de Kohl neste pleito é bem mais magra do que a anterior, quando o político teutônico ainda vivia o auge da glória de ser o chanceler da reunificação. Se a economia começou a melhorar para os que vivem do lado ocidental, o mesmo não se pode dizer para os que moram no leste.
O resultado eleitoral é eloquente: o PDS (o ex-PC da RDA), partido quase inexistente no lado ocidental, viu sua representação quase que dobrar, passando de 17 para 30 cadeiras no Parlamento. Uma outra legenda da esquerda, os verdes, obteve vitória ainda mais expressiva, pulando de 8 para 49 assentos.
Assim, as urnas dão um claro recado a Kohl. Os alemães do oeste estão relativamente contentes com o seu governo. Já os orientais, sem emprego e com salários menores, mostraram sua insatisfação votando em partidos de esquerda.
A vitória dos conservadores na Alemanha repete, portanto, uma tendência mundial: um governo que conduz bem a economia, ou ao menos convence a população de que o faz, permanece; em caso contrário, é enxotado.

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