São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Bastidores e compromissos; TSE no feriado; Saúde pelo ralo; Saneamento das polícias; Ciência, pura abnegação; Instalação de Cony; Difícil escolher; Bancada do PSB

Bastidores e compromissos
``Creio que a Folha cometeu um equívoco inaceitável para um jornal de tal importância ao reter durante toda a campanha eleitoral informações cruciais sobre a disputa política com o propósito de publicá-las apenas depois de fechadas as urnas, na forma de livro. O equívoco conceitual começa por distinguir todo um conjunto de eventos como sendo de `bastidores'. Esses não seriam objeto de interesse jornalístico. Ora, a principal função jornalística é exatamente a de tornar públicos, o mais rapidamente possível, todos os fatos de interesse público e mais ainda os mantidos em segredo. O segundo equívoco está no acordo firmado entre os dois jornalistas e as fontes, pelos quais se comprometeram a não revelar esses fatos senão depois das eleições. Um jornalista pode ter certos compromissos com suas fontes, mas sempre até o limite de não amarrar as suas mãos caso se defronte com fatos que são de interesse público e precisam, portanto, ser divulgados. Esses compromissos, por isso, se referem, em geral, à forma de atribuição da informação, à citação ou não da fonte, ou a garantias de que serão procuradas outras fontes para corroborar ou compartilhar a revelação. Tudo isso é ainda mais grave porque os protagonistas eram nada mais nada menos que os diretores da Sucursal da Folha em Brasília. Pergunto: como ficam os leitores, que pensavam que estavam recebendo as melhores e mais importantes informações, mas, ao contrário, recebiam em geral migalhas e jornalismo de declarações? O que realmente eles receberam de Brasília durante a campanha? Como fica o `Manual da Redação' da Folha?"
Bernardo Kucinski, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Nota da Redação – Leia a resposta do jornalista Gilberto Dimenstein em sua coluna à pág. 1-2.

TSE no feriado
``A propósito de nota publicada na coluna do jornalista Luís Nassif, da edição do último dia 13, sob o título `Mistério', gostaria de esclarecer: no feriado do último dia 12, a equipe da Assessoria de Comunicação Social do Tribunal Superior Eleitoral trabalhou das 6h às 22h. O ministro Sepúlveda Pertence trabalhou, na parte da tarde, em seu gabinete. Após reunião com o corregedor-geral eleitoral, resolveu enviá-lo ao Rio de Janeiro para acompanhar de perto a apuração dos votos naquele Estado. A informação foi passada à imprensa por volta das 16h. A reportagem da Sucursal da Folha, em Brasília, esteve presente durante todo o dia no TSE. Lamento que, mais uma vez, o colunista demonstre publicamente que é desinformado. Não há nada pior para a atividade jornalística do que a ignorância dos fatos."
Irineu Tamanini, assessor de Comunicação Social do Tribunal Superior Eleitoral (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Luís Nassif – De fato, a coluna supôs que no feriado o sr. Tamanini e o seu assessorado tivessem sucumbido a um ataque de discrição e contido seu exibicionismo irrefreável. Como se viu, erramos.

Saúde pelo ralo
``Parabéns ao jornalista Josias de Souza pelo seu artigo `O Brasil da pia' (edição de 17/10). Como médico, lamento a situação de verdadeiro caos que se instalou nos serviços médicos do Rio de Janeiro, mas que não deixa de ser o retrato da grave crise do sistema médico-hospitalar brasileiro."
Mário Negreiros dos Anjos, do Conselho Deliberativo da Associação Médica Fluminense (Niterói, RJ)

Saneamento das polícias
``A alegação do oficial subdiretor de comunicação da PM de que a letra da canção do rapper Big Richard incita à violência é de uma máxima heresia, sobretudo para nós negros, que identificamos a própria PM como uma instituição especialmente perigosa. A absurda e ilegal prisão do rapper só poderia ser considerada `correta' por uma instituição anacrônica, que necessita ser profundamente reformulada pela sociedade que a sustenta e que começa a entender que a questão da falta de segurança tem como preliminar o saneamento das polícias. Quem ainda tiver dúvidas sobre isso, sugerimos ler o contextualíssimo texto de Marcelo Beraba publicado em 17/10 com o sugestivo título `Polícia e bandido'."
Helio Santos (São Paulo, SP)

Ciência, pura abnegação
``Durante o fim-de-semana foi noticiada na Folha a falta de pagamento para 42 mil bolsistas do CNPq no país, devido à ausência de Orçamento ou medida provisória paliativa. A persistir –e se repetir– este estado de coisas, a já combalida opção de seguir a vocação da pesquisa científica em nosso país será exterminada de vez."
Edécio Cunha Neto (São Paulo, SP)

``O CNPq, mais uma vez, não está repassando o dinheiro dos projetos para os laboratórios. Como se já não bastasse o ínfimo percentual destinado à ciência no Brasil, estas migalhas não estão sendo distribuídas."
Heron Oliveira dos Santos Lima e Raul Marcel G. Garcia (Maringá, PR)

Instalação de Cony
``Carlos Heitor Cony conseguiu, de modo competente e criativo, me tirar do marasmo pós-eleitoral com a sua bem-humorada crítica à Bienal (15/10). Há muito tempo não encontrávamos razão para boas gargalhadas."
Victoria Maria Brant Ribeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Difícil escolher
``Venho elogiar o suplemento Olho no Voto (8/09), que auxiliou a esclarecer o desempenho dos parlamentares e não votar no `escuro'. Ainda assim tive grande dificuldade em escolher, apesar de ler jornais e revistas e assistir ao programa eleitoral gratuito. Faltou uma divulgação mais ampla e clara dos nomes dos candidatos pela mídia."
Carmen Luisa Foloni (São Paulo, SP)

Bancada do PSB
``A Folha de 16/10 estampa matéria com o seguinte título: `Igreja Universal elege bancada de seis deputados e supera PRN e PSB'. Não é verdade. Se a Igreja Universal elegeu uma bancada de 6 deputados, ela não pode haver superado o PSB, que já elegeu 16 deputados pode eleger um 17º, elegeu um senador (Ademir Andrade, Pará), já elegeu um governador de Estado (Miguel Arraes, Pernambuco) e disputa como favorito o governo de um segundo Estado (João Capiberibe, Amapá)."
Roberto Amaral, vice-presidente da Executiva Nacional do PSB (Rio de Janeiro, RJ)

Nota da Redação – Leia retificação na seção Erramos abaixo.

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