São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Médico diz que estudante não é 'serial killer'

DA FOLHA VALE

O laudo psiquiátrico de Gustavo Pissardo, 21, que confessou ter matado cinco pessoas da família, foi entregue ontem pela equipe médica do hospital Chuí, em São José dos Campos (SP), ao advogado José Carlos de Oliveira.
O laudo foi feito a pedido de Oliveira, que irá usá-lo na defesa. O advogado tentará alegar insanidade mental do estudante no caso.
O laudo, que não terá validade para a Justiça, possui 32 páginas e foi assinado por uma junta de nove médicos.
Pissardo confessou à polícia no último dia 4 ter matado os seus pais, Gumercindo, 46, e Adelaide, 49, a irmã Maria Paula, 18, e os avós paternos, João e Antônia Pissardo.
Os crimes aconteceram em um período de sete horas, nas cidades de São José dos Campos e Campinas. O estudante está preso na Casa de Custódia de Taubaté, de segurança máxima.
O psiquiatra Alcimar Souza Lima, 42, professor do Instituto Sedes Sapienteae, em São Paulo, e membro da equipe que analisou Pissardo por sete dias, disse que o laudo tem explicações psicanalíticas.
Essas explicações, segundo ele, foram tiradas do ensaio ``A cisão do ego como mecanismo de defesa", escrito por Sigmund Freud, em 1938.
Segundo o médico, Freud mostra que existe no ser humano uma ``região fronteiriça" entre a lucidez e a loucura. ``Existe um lado do eu psíquico que tem noção do que está acontecendo e um outro que não", afirmou.
Na opinião do médico, Pissardo não é um ``serial killer" (pessoa que comete assassinatos em série), porque as cinco mortes estariam associadas a um sentimento ``singular" contra as pessoas que ele matou.
Para Alcimar Lima, Pissardo tinha pelo pai, Gumercindo, sentimentos de admiração e submissão.
``Submissão porque o pai era muito enérgico e isso gerava medo. Esse dualismo, associado a uma anomalia, foi o que desencadeou a série de assassinatos."
A irmã caçula de Pissardo, Maria Paula, 18, teria sido morta pelo estudante em razão de um ``sentimento de eliminação" de alguém de sua própria geração.
Esse sentimento, segundo o médico, poderia ser provocado por diversos fatores, entre eles a rejeição do pai.
``O irmão, Adriano, era diferente. Para o Gustavo ele representa carinho, pelo que percebemos. Até pela pouca convivência, Gustavo não teria, aparentemente, motivos para matá-lo", disse Souza Lima.
O laudo aponta ainda que Pissardo teria disparado os tiros na cabeça de seus familiares por causa da forte dor de cabeça que sentia.
``Ele chegou a dizer várias vezes que essas dores iriam fazer explodir seus miolos. Isso pode ter provocado uma reação adversa a essa parte do corpo humano", afirmou.
O laudo dos médicos é finalizado com a sugestão para que Pissardo permaneça internado, e isolado, em um hospital-prisão.
Na divulgação parcial do laudo, feita na semana passada, o médico que chefia a equipe, Hélio Alves de Souza Lima, havia dito que o estudante poderia ser considerado um ``serial killer" e que poderia ter matado mais pessoas.
Pissardo foi submetido há pouco mais de dez dias a um exame de tomografia computadorizada, em uma clínica particular em São José. O exame apontou uma lesão no cérebro.
O quadro do estudante foi diagnosticado depois do exame como neuro-psiquiátrico. Isso, segundo os médicos, poderia levá-lo a matar a família.

Texto Anterior: Homens roubam carro-forte e fazem 11 reféns
Próximo Texto: Monte em casa sua própria miniacademia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.