São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Eucalipto: você ainda vai ser vítima de um

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Quem sofre de distúrbios respiratórios pode ir fazendo as malas e se preparando para dar o fora da cidade. É sério.
O pagador de IPTU menos atento não deve ter notado, mas no último dia 20 de setembro a prefeitura deflagrou uma operação chamada ``Vamos Florir São Paulo", que, a despeito do lirismo embutido no nome, promete tirar o sossego da população apenas para satisfazer os propósitos recônditos do prefeito paulistano.
Eu explico: em vez de livrar as árvores públicas do cupim, o prefeito Paulo Maluf optou por mostrar serviço de forma mais vistosa.
Pretende plantar 2 milhões, isso mesmo, 2 milhões de mudas de eucaliptos nos canteiros, praças públicas e outras áreas verdes da cidade.
Começou pelo canteiro central da avenida Bandeirantes, onde eucaliptos estão sendo plantados ao lado de pitangueiras e quaresmeiras.
Qualquer um que já tenha tido a oportunidade de ver de perto um vegetal sabe que o eucalipto é uma arvorezinha safada. Parece majestosa, mas não passa de uma praga maldita.
Senão vejamos: por crescer com rapidez, a espécie mata toda a natureza à sua volta e inibe o crescimento de outras árvores. Além disso, o eucalipto produz grande quantidade de folhas. Imagine o estrago que essas folhas não irão causar, entupindo bueiros, encobrindo postes de iluminação, fazendo uma sujeirada dos diabos na cidade.
Sem contar que o odor exalado pelo eucalipto constitui um verdadeiro atentado à saúde de pessoas que sofrem de distúrbios respiratórios e que seu tronco esguio serve como chamariz para relâmpagos.
Muito me admira o prefeito Paulo Maluf –velho ``connaisseur" da planta, uma vez que sua família é proprietária da Eucatex, empresa de revestimentos que utiliza o eucalipto como matéria-prima– ter escolhido justamente essa espécie para ``arborizar" São Paulo.
Quem sabe Maluf não tenha desprezado árvores mais apropriadas aos canteiros da cidade, como o ipê amarelo, a palmeira ou a pitangueira por algum motivo de ordem sentimental?
Será que Maluf não privilegiou o eucalipto porque a Eucatex, entre outras coisas, produz a vermiculita, um adubo muito usado no plantio de eucaliptos, como insinuam por aí? Eu só queria entender.

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