São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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'Só vi o rosto ensanguentado', diz mãe do garoto de 3 anos baleado

DA SUCURSAL DO RIO

Uma criança de 3 anos, o menino Clayton Palmares Santos, teve o rosto atravessado por uma bala perdida no tiroteio na favela Nova Brasília.
O menino, operado no Hospital Geral de Bonsucesso (zona norte), não corre risco de vida. Segundo os médicos que o atenderam, a cirurgia consistiu na recomposição do maxilar superior e na reconstituição da língua.
A mãe, Lucimar da Silva Palmares, 22, empregada doméstica, afirmou que descia o morro, às 6h, para ir trabalhar, sem saber da operação policial. ``Como eu moro na parte de trás do morro, não escutei nada e quando vi estava no meio do fogo cruzado", disse.
``Quando ouvi os tiros, que vinham de todos os lados, me abaixei com meu filho no colo junto a um muro", conta ela.
``De repente, senti uma poeira cair daquela parede e olhei para o rosto do meu filho todo ensanguentado", afirma.
``Eu só tive forças para descer o morro gritando desesperada, achei que ele estava morrendo."
Identificação
A polícia identificou apenas 2 dos 13 mortos ontem durante tiroteio na favela de Nova Brasília. Leonardo da Silva, 21, e Adriano, ainda sem idade ou sobrenome identificados.
Moradores afirmaram que outras quatro pessoas teriam sido mortas, mas os corpos não foram encontrados pela polícia.
Adriano foi reconhecido por uma mulher que se disse sua tia. Ela confirmou que o garoto trabalhava para o tráfico de drogas.
A polícia suspeitava que um dos gerentes do tráfico no morro, Marcinho PV, estaria entre os mortos.
No Tempra preto apreendido pela polícia foi encontrado um morto que, segundo policiais, poderia ser o traficante ``Baleia".
Ele teria participado da ação de sábado na 21ª DP, quando um grupo em quatro carros (um deles, um Tempra também preto) metralhou a delegacia.
Ao reconhecer o corpo do sobrinho, a tia chorou e disse: ``Não precisava isso".

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