São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nem mesmo o Pelé ajudaria o Santos hoje

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esta poderia ser a noite das tamancadas, a versão lusa da noite de São Bartolomeu. Afinal, jogam Portuguesa e Vasco. A propósito, não me sai da memória uma cena vivida nos inícios dos anos 50, quando a Portuguesa era uma potência.
Numa tarde de quarta-feira, Portuguesa e Juventus, na Javari. Um solitário e fiel luso, de chapéu preto, terno preto, camisa branca, sem colarinho, guarda-chuva em riste, isolava-se nas arquibancadas, heróico e impávido. Pênalti contra o Juventus. Djalma Santos corre e toca no canto contrário ao que voou o goleiro paraguaio Ferro. O luso vibra sozinho. Pra quê? Xingamentos daqui pra lá, e, de repente, o estádio desaba sobre o torcedor. Era um homem de meia idade, atarracado, daqueles acostumados a levar nos ombros e na cabeça o peso do mundo. Resultado: esgrimindo com precisão e raça o seu guarda-chuva, o solitário defensor luso pôs pra correr todo o estádio. Um dom Sebastião das arquibancadas que nunca me deixou a memória.
Lembro desse episódio, menos por causa de Vasco e Lusa e mais pelo Palmeiras e Santos, no Parque Antarctica.
A Polícia resolveu escamotear 6.000 ingressos da lotação total para evitar maiores encrencas. Isso porque as torcidas, sobretudo as uniformizadas, andam sob uma temperatura escaldante.
Se a lei fosse dura e enquadrasse os marginais que atuam nos campos de futebol, podem escrever: a coisa rolaria leve e solta. Como no velho samba de Miguel Gustavo, ``Dura lex, sed lex. Nem que o senhor fosse o Café (vice-presidente guindado à Presidência pelo suicídio de Getúlio)". Ou, na versão mais atualizada, ``nem que o senhor fosse o Pelé".
Mas nem com o Pelé puxando os cordéis, o Santos, esta noite, haverá de escapar da categoria superior do Palmeiras. Nem mesmo Chulapa pode dar a esse time o `punch' necessário para derrubar o maior time do Brasil. A não ser que o Palmeiras esteja vivenciando aquela experiência típica dos grandes campeões: a certeza traiçoeira da vitória.

O tricolor cai na Bombonera, um alçapão armado para devorar qualquer adversário. E, por seus pecados, sem Aílton, expulso no último jogo da Supercopa, contra o Colo Colo.
Não que seja um craque. Mas é o único jogador que dá um certo `swing' a esse certinho e quadrado meio-campo tricolor. Ainda assim, dá pra voltar de lá com a esperança da classificação.

E o jovem Brasil entra em campo sob o comando do velho Zagalo. Trata-se de um jogo isolado, contra o Chile, em Concepción. Mas a verdade é que Zagalo tem em mãos simplesmente a geração que servirá de base para a Copa de 98. E, na cabeça, uma dúvida: Amoroso no meio ou de centroavante. Amoroso é um meia que chega. No comando do ataque, ao lado de Sávio, é Marques. E ponto final.

Texto Anterior: Técnico da Itália traz vídeos da Romênia ; Fiscais da Federação irritam Bernardinho ; GP da Argentina abre temporada 95 ; Equipe pode perder mando de dois jogos ; Dirigente alagoano se entrega à polícia ; Polícia do Rio quer prender vascaínos
Próximo Texto: Ser ou não ser (profissional)?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.