São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Orquestra de Bamberg estrutura novos sons

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro alemão Christoph Eschenbach, 54, deu mostras, em São Paulo, de estar credenciado para integrar o círculo restrito dos que potencializam a música de Gustav Mahler (1860-1911).
À frente da Orquestra Sinfônica de Bamberg, chegou muito próximo de Bruno Walter e outros que souberam combinar o ``pathos" e a técnica glacial no compositor.
Eschenbach presenteou os assinantes da temporada do Mozarteum Brasileiro, segunda-feira no Teatro Municipal, com uma ``Sinfonia nº 5" repleta de achados.
Não deu ênfase ao fraseado quando a linha melódica estava à cargo de um grupo de instrumentos. Esforçou-se, bem mais, em tornar imperceptíveis as conexões com que a melodia se transferia de um grupo ao outro.
A orquestra permitia, de certo modo, seccionar os sons como se fossem blocos sólidos, a partir dos quais construiria a percepção de unidade para, rapidamente, diluí-la na tensão da da execução.
Os músicos de Bamberg e seu regente titular igualmente se associaram ao jovem pianista norte-americano Tzimon Barto para o ``Concerto nº 3" de Sergei Prokofief (1891-1953).
É uma peça difícil. A tendência de alguns intérpretes é a de tomar o compositor russo, ainda exilado na Europa Ocidental nos anos 10 e 20, sob a ótica de sua produção marcada por concessões à estética musical bolchevista, que o tolheram a partir dos anos 30.
Eschenbach e Barto passam ao largo da armadilha. Em vez de caçar consonâncias para recuperar detritos de uma antiga harmonia, prevalece a exposição pontual das transgressões próprias a um modernismo nascente.
O ``Concerto" ganhou também cores de um poema sinfônico, fundamentado em alguma forma de narrativa (como, em Prokofiev, ocorre com a ``Suite do Tenente Kijé" ou ``Romeu e Julieta").
O resultado é a dramaticidade encontrada em outras excelentes interpretações daquela peça, como a de Argerich com a Filarmônica de Berlim, regida por Abbado.
Tzimon Barto é um nome a ser retido. Entrou em cena como um garotão movido a corn-flakes e predisposto a demonstrações de força. Mas demonstrou ser um virtuoso da delicadeza.

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