São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Roger Avary cria plasticidade radical para inferno parisiense

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

O filme ``Killing Zoe", escrito e dirigido por Roger Avary, é um fenômeno nos Estados Unidos. Primeiro, porque estreou em agosto e está até hoje em cartaz. Segundo, porque é um filme que mostra extrema violência de forma inteligente e perspicaz. Terceiro, porque celebra a entrada triunfal dos novos diretores no ``mainstream" da produção cinematográfica norte-americana.
Para começo de conversa, é bom lembrar que o filme tem produção de Quentin Tarantino, amigo de Avary e diretor dos aclamados ``Pulp Fiction" e ``Cães de Aluguel", que fazem a linha da ``violência inteligente".
``Killing Zoe" trata de uma gangue francesa que planeja um assalto ao maior banco de Paris. Para isso, chama dos Estados Unidos um ``expert" em abrir cofres, Zet, interpretado brilhantemente por Eric Stoltz.
Zet chega a Paris e encontra no hotel a bela Zoe (Julie Delpy), uma garota que se diz ``estudante" e se prostitui para pagar seus estudos. Passam a noite juntos até que chega o líder da gangue, Eric (Jean-Hugues Anglade), e atira Zoe para fora do quarto.
Aí começa um thriller que mostra o lado escuro de Paris, com todas as drogas imagináveis. As cenas confundem sombras e coloridos que chegam a ser hilariantes. Como quando Zet enxerga notas saindo dos instrumentos musicais de uma banda de jazz que se apresenta em um bar parisiense.
No dia seguinte, todos estão ligadíssimos, menos Zet. Se armam até os dentes para colocar o plano em prática. Chegam ao banco com máscaras carnavalescas.
A ligação das primeiras cenas é feita quando o bando invade o banco, porque é onde trabalha Zoe. O corte na narrativa do filme o torna mais intrigante. Foge da linha do suspense clássico sem fazer com que o espectador perca o rumo da história.
As cenas são de violência explícita. Mortes à queima-roupa e torturas. Os caras estão fora de controle e o plano também.
Uma cena que deve ficar antológica é quando o chefe da gangue briga com Zet e Zoe. Os movimentos da briga são feitos em quadros alternados, dando a idéia de câmera lenta e, ao mesmo tempo, de imagem em alta exposição, que a torna de uma plasticidade ímpar.
O ator Eric Stoltz chegou a comentar em uma entrevista que acha importante que filmes mostrem de forma simbólica o lado negro da natureza humana.
``O mundo é um inferno brutal e ao mesmo tempo um lugar maravilhoso, e os filmes são apenas uma forma de contar histórias sobre o mundo."

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