São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Mais oferta, menos juros

A inflação ameaça subir e é natural que o governo tome novas medidas para combatê-la. Há, entretanto, formas mais e menos eficientes de fazê-lo; mais e menos custosas; mais e menos desastrosas.
Excluída a intervenção direta nos preços –que legou ao país apenas uma série de fracassos–, o governo pode agir de modo a aumentar a oferta de produtos ou desestimular o consumo. As duas políticas ajudam a combater a inflação, mas a diferença entre elas é visível. Uma maior oferta de produtos impulsiona a economia para a frente, a restrição ao consumo puxa-a para trás.
Nesse sentido, a rebaixa das alíquotas de importação foi correta. Em tese, mais mercadorias estarão à disposição dos brasileiros e a competição externa desestimulará os aumentos de preço. Na prática, porém, o próprio governo é responsável pela lentidão no crescimento das importações. A excessiva burocracia impede que o potencial de importações se concretize.
As tarifas estão baixas, os preços no exterior podem ser bastante bons, a queda do dólar torna-os ainda mais atraentes e, no entanto, os produtos importados não chegam às prateleiras no ritmo em que poderiam, nem as matérias-primas às indústrias.
Nessa situação, era de se esperar que o governo agisse energicamente na eliminação dos entraves às importações. Mas, em vez de livrar o caminho à competição externa, o ministro da Fazenda ameaça subir os juros, desestimulando o consumo e os investimentos. Ou seja, sem atacar a própria incompetência, o governo cogita adotar uma política que frustra a perspectiva de crescimento do país, penaliza o setor privado e agrava ainda mais a situação dos cofres públicos.
O combate à inflação é sem dúvida nenhuma a prioridade nacional, mas agilizar as importações e estimular o aumento da oferta é incomparavelmente melhor do que restringir o consumo.
Ademais, elevar os juros é a pior entre as possíveis medidas contracionistas. Restringir administrativamente as vendas a prazo, por exemplo, inibe o consumo e pouco custa ao erário. A política de juros altos tem efeito no curto prazo, mas projeta para o futuro um maior déficit público e uma menor oferta de produtos. Abafa com lenha a fogueira da inflação.

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