São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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Orçamento será subordinado ao Planalto

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O Orçamento da União, na gestão Fernando Henrique Cardoso, ficará subordinado diretamente ao Palácio do Planalto.
O presidente eleito pretende transformar o atual Ministério do Planejamento em secretaria (ou outro eventual nome) e fazê-la funcionar na sede do governo.
Como o Orçamento é responsabilidade do Planejamento, viria junto para o Palácio do Planalto.
Essas idéias foram transmitidas ontem pelo próprio FHC, durante almoço com os jornalistas que cobrem sua estada em Moscou, ao som de um conjunto típico que executava músicas russas.
Foi no restaurante principal do Hotel Metropol, um salão art-nouveau que o líder revolucionário russo León Trótsky frequentava.
FHC desenhou um cenário institucional para a futura Presidência que se aproxima muito do modelo ``Presidência imperial" que a Folha já havia antecipado uma semana antes da eleição.
Começa pelo próprio fato de o Orçamento ficar sob vigilância direta do presidente. Motivos: é uma peça poderosa demais para se prestar ou a uma disputa de influências entre Fazenda e Planejamento, como ocorre hoje.
A Fazenda, aliás, se transformará em uma espécie de Contadoria Geral da Nação, empenhada em defender a moeda, sem os superpoderes que detém hoje.
Mas o caráter imperial, sem conotação negativa, se dá também pelo fato de que FHC pretende ser, a um só tempo, o grande comunicador, o grande negociador e o grande gerente da República.
Para isso, quer dotar a Presidência de um sistema de informações que evite o que, em sua opinião, acontece hoje.
``Muitas vezes, em audiência com os ministros, o presidente é servido de um prato feito", avalia FHC, referindo-se a textos que são trazidos pelos ministros sem que o presidente possa avaliar corretamente todos os aspectos.
FHC quer uma ``Presidência organizada", situação que, acha ele, o Brasil viveu pela última vez no período do general Ernesto Geisel (74/79), sem que tenha entrado no mérito dessa gestão.

Ministros
A partir do exemplo presidencial, os ministros terão que participar desse jogo, até porque FHC sabe exatamente o perfil que deseja de cada um, embora jure não ter nome algum para cargo algum.
FHC cita, sem modéstia, como perfil ideal de ministro, o seu próprio, quando titular da Fazenda. Não é um economista, embora entenda o essencial do assunto, mas era capaz de dialogar com a sociedade e galvanizá-la, acredita.
Tanto para o próprio presidente como para cada um dos ministros, vale uma outra característica: a capacidade de fazer com que as decisões adotadas sejam de fato implementadas.
O almoço acabou sendo a única atividade do dia. FHC só saiu de novo à noite, para um concerto do violoncelista Mitislav Rostropovich. Hoje, no fim da tarde, embarca para São Petersburgo, a antiga Leningrado.

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