São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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Tripulante teria detectado falha em avião

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Minutos antes de o Hércules C-130 da FAB (Força Aérea Brasileira) decolar sexta-feira à tarde da Base Aérea do Galeão, no Rio, o comandante do vôo, major Isael Machado, teria sido alertado de que havia um vazamento de óleo em uma das mangueiras do avião.
O alerta teria sido feito pelo mecânico de vôo e sargento da Aeronáutica Luis Carlos Fernandes, 29.
Apesar disso, o comandante decidiu decolar. Os dois -e outras 19 pessoas- morreram na explosão do avião, sexta-feira passada na região oeste da Bahia.
O caso foi relatado ontem à Folha por um mecânico de vôo que presenciou a conversa. Ele não quis ser identificado.
Ele disse também que desde terça-feira o sargento Luis Carlos Fernandes vinha tentando reparar o defeito.
Segundo o mecânico, o sargento estava com medo de fazer a viagem até Belém (PA) no avião.
A mulher de Luis Carlos, Olívia Fernandes, 26, contou que há cinco meses o marido havia sido preso por dez dias, porque teria se recusado a embarcar em um Hércules C-130 com um defeito no sistema direcional.
Ele contou à mulher que, em seu relatório, teria colocado uma cruz vermelha –o que, no jargão da Aeronáutica significa que o avião não pode decolar.
Depois de ter sido obrigado pelo comandante do vôo a embarcar, segundo Olívia, Luis Carlos passou dez dias preso na Base Aérea do Galeão.
O sargento teria apresentado ao comandante da Base, coronel Antônio Pinto Macedo, pedido de reconsideração da punição, que teria sido negado através de uma carta.
``Nós temos que tirar peças de um avião e passar para outros. Não há compra de material de reposição", disse o mecânico, informando que anteontem quatro Hércules C-130 sem condições de vôo ocupavam o hangar da Base Aérea.
Maria de Lourdes Fernandes, 49, mãe do sargento morto, disse que há cerca de seis meses o filho teria contado que havia sido obrigado a fazer o reparo na mangueira de um avião usando fita isolante.
O advogado Walmir Venâncio, amigo do suboficial Ivair Mendonça –que também foi morto no acidente –está reunindo as famílias dos mortos para entrar com uma ação contra a Aeronáutica.

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