São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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A competição automobilística

LUÍS NASSIF

O superintendente da Fiat Automóveis, Pacifico Paoli, entra em contato com a coluna para informar: a) sua empresa é contra a cobrança de ágio; b) e está tomando medidas efetivas para acabar com o ágio.
Quando teve início a cobrança de ágio, a Fiat juntou sua rede de concessionárias e recomendou o fim do imediatismo. }Há a hora de tomar champagne e a hora de tomar água, explicou Paolo. }Um pouco de champagne é bom. Se abusar, fica de pileque e passa mal.
Em outras palavras, convenceu-os de que a cobrança de ágio jogaria a opinião pública contra o setor, comprometendo o acordo da câmara setorial e, por conta de lucros no curtíssimo prazo, impediria o crescimento da marca no médio prazo.
A partir daí, foi criado o programa }Mille On-Line, visando cadastrar todos os candidatos à compra do Mille. O freguês de cadastra e paga 50% do valor do carro. No mesmo instante fica sabendo o dia em que o carro será entregue –ocasião em que ele pagará os 50% restantes. A Fiat se autoimpos multas de R$ 20,00 reais por dia de atraso até o 15 dia e R$ 15,00/dia depois disso. Em um mês, equivale a R$ 1.000,00 de multa.
Além disso, cada freguês é cadastrado pelo CGC e fica impedido por seis meses de voltar a comprar carro pelo sistema }Mille On-Line –o que não elimina completamente, mas inibe bastante a ação de especuladores.
Do ponto de vista comercial, a iniciativa foi um sucesso, a ponto de ter uma fila de cinco meses pela frente. A Fiat tem cadastrados 58.783 fregueses –dos quais 12.323 já receberam seus carros no dia marcado. Praticamente não há Uno Mille sendo negociado fora das concessionárias. Todas as vendas são faturadas em nome de pessoas físicas, inclusive aquelas feitas para atender as cotas de consórcios.
No último mês o Mille abocanhou 47% do mercado de carros populares, tornando a Fiat a maior produtora nacional do mês –beneficiada por greves que afetaram a produção da Volks, é verdade.
Opinião do consumidor
Além disso, o contato direto com os fregueses permitiu à Fiat dispor de um material rico sobre as tendências de mercado, já que cada cliente pode especificar o tipo de carro que deseja, escolhendo cor e outras características.
Enquanto outras montadoras inibiam a produção de seus carros populares, para obter maiores margens nos carros médios, a Fiat passou a investir fortemente na ampliação do mercado. Sua intenção é tornar-se a maior montadora brasileira em alguns anos.
Sendo bem sucedida ou não, sua iniciativa prova uma coisa: nem acordos oligopolistas do setor automobilístico resistem a uma economia aberta.

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