São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
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Equipe perde credibilidade, diz Tápias

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas do Banco Central para conter o consumo e desaquecer a economia foram mal recebidas nos meios econômicos privados. As principais críticas são:
1. as medidas são exageradamente fortes na contenção do consumo financiado;
2. são ineficientes na contenção do consumo feito com dinheiro sacado de aplicações financeiras;
3. desaquecem a produção de mercadorias, ao reduzir a demanda e ao limitar e encarecer o crédito às empresas.
4. afetam a credibilidade da equipe econômica, pois as medidas foram baixadas de surpresa.
O presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos, Alcides Tápias, diz que nada foi feito para aumentar a oferta de mercadorias, exceto a abertura de importações.
Acha ainda que a oferta será afetada pois os industriais não se arriscarão a aumentar a produção, dada a quebra de credibilidade.
Para a equipe econômica, o objetivo foi exatamente desaquecer toda a atividade econômica. O meio escolhido foi elevar os juros para o setor privado através da redução do dinheiro disponível para financiamentos. Ou seja, limitar e encarecer os crediários em geral.
Isso vai acontecer, diz Tápias. Com o recolhimento compulsório de 15% que os bancos têm de fazer sobre todos os empréstimos concedidos, haverá menos dinheiro para emprestar. O crédito escasso fica mais caro.
Portanto, há concordância na equipe e no setor privado que o consumo financiado (compra a prestação) será fortemente reduzido. Mas ninguém se arrisca a dizer se haverá ou não uma retração geral da atividade econômica.
Para Cassio Casseb, do Citibank, todas as classes econômicas vinham consumindo fortemente. As classes C e D, através de crédito. As classes A e B, com o dinheiro sacado de aplicações financeiras.
As classes C e D estão bloqueadas, mas não as outras duas. Ao contrário, como o juro pago ao aplicador financeiro não aumentou, este poderá ser estimulado a resgatar e comprar bens duráveis.
Isso acontecerá especialmente se prevalecer a expectativa de que o Plano Real está ameaçado e que os preços podem voltar a subir rapidamente.
Membros da equipe econômica reconhecem que atingiram apenas o consumo financiado. Acreditam que esse consumo é o principal responsável pelo exagerado aquecimento da economia, que leva a escassez de mercadorias, ágio e aumento de preços.
Mas se as medidas tomadas não forem suficientes, a equipe vai aplicar outras para conter o saque de aplicações financeiras. Segundo apurou a Folha , isso seria feito através de um aumento nos juros pagos ao aplicador, com nova redução da rentabilidade dos bancos.
É impossível saber qual tipo de consumo é predominante. Isso porque quando uma pessoa saca da aplicação para comprar um carro, esse dinheiro acaba voltando para alguma outra aplicação financeira, agora feita pela loja.
Assim, quando se observam as estatísticas, a alteração nos fundos de aplicações é pequena. Mas não revela o eventual trânsito do dinheiro pelo consumo.
Dados da consultoria Austin Asis indicam que, em junho deste ano, os bancos brasileiros tinham US$ 50 bilhões emprestados no curto prazo e US$ 30,5 bilhões no longo prazo.
O curto prazo é basicamente financiamento de consumo. Todo ele paga o compulsório de 15%. O de longo é para investimento. Mas a maior parte deste dinheiro vem de recursos do BNDES e de financiamento externo, sobre os quais não se aplica o compulsório.

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