São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
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Exército contra o crime

O envolvimento das Forças Armadas no combate à criminalidade é uma daquelas questões espinhosas que encerram inúmeras considerações, tanto favoráveis como também contrárias à participação dos militares na luta contra os marginais. Um fato, porém, é inegável: todas as forças policiais –PMs, polícias civis e a PF– revelam-se hoje incapazes de enfrentar com sucesso o desafio imposto pelos traficantes e contrabandistas organizados, deixando assim a população à mercê de um grau de violência sem precedentes na história do país.
Essa situação não pode, como é óbvio, perdurar. E a incapacidade das polícias de controlar a ação dos traficantes deve-se em larga medida ao fato de que muitas autoridades policiais bandearam-se para o outro lado, tamanho é o poder corruptor dos marginais.
Uma eventual participação das Forças Armadas no combate ao crime organizado traria certamente o risco de os castrenses se deixarem contaminar pelo tráfico, exatamente da mesma forma que os policiais, mas com consequências ainda piores. Uma forma de evitar ou ao menos minimizar esse risco é impedir que as tropas se envolvam no dia-a-dia da ação anticrime, o que as colocaria na mesma relação promíscua e daninha que acabou pervertendo os policiais.
Ainda assim, as Forças Armadas poderiam ser de inestimável auxílio, por exemplo, no policiamento de fronteiras (boa parte das drogas e das armas que geram tanta violência não são produzidas aqui), em eventuais operações conjuntas de maior envergadura e, sobretudo, no apoio logístico às autoridades policiais ainda puras.
Uma participação das Forças Armadas nesses moldes parece, portanto, apropriada e bem-vinda. Isso, porém, não exime a sociedade civil de cobrar com vigor uma profunda depuração dos quadros das polícias. É preciso que a Justiça puna com rigor e rapidamente todos aqueles que se revelarem maus policiais. É preciso que haja exemplos. A impunidade é o maior incentivo à corrupção e à violência.

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