São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
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Itamar contrata 10 mil

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Nas suas despedidas, o presidente Itamar Franco autorizou a contratação de 10 mil funcionários para as universidades federais –os editais de concurso já estão em fase de divulgação. O fato provoca inquietação entre assessores de Fernando Henrique Cardoso, temendo maior pressão por recursos públicos.
Esse novo lote de contratações destina-se aos 44 hospitais universitários, muitos deles com departamentos desativados por falta de pessoal. Daí o Ministério da Educação ter se mostrado sensível às reivindicação de reitores.
Os reitores, em geral, são mais ágeis na caça do dinheiro do que no corte de gastos e enxugamento de pessoal. Nas universidades americanas, para cada 24 alunos existe um professor. Aqui, de cada 6 alunos, um professor.
Um dos problemas é que vários hospitais universitários desviaram-se de suas funções. Teoricamente, deveriam ser centros de ensino e pesquisa. Mas, com a crise da saúde pública, passaram a tapar buracos, atendendo cada vez mais pacientes.
Há, porém, quem argumente no Ministério da Educação que, quanto mais casos atendidos, melhor a prática do aluno. Discutível: talvez fosse melhor e mais barato treinar o estudante num hospital comum, assessorado por professores.
As contratações foram possíveis porque se utilizaram 10 mil vagas no Ministério da Saúde –as vagas estavam abertas porque funcionários se aposentaram ou deixaram o governo. E, aí, abre-se mais uma delicada discussão: mais uma vez, é privilegiada a medicina curativa.
PS – Por falar em universidade, até agora o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, não detalhou o que vai fazer com o mundo acadêmico brasileiro. Ninguém melhor do que ele, sua mulher e seus amigos mais próximos conhecem as mazelas e falhas no ensino superior. Como, por exemplo, implementar os critérios de avaliação? A prova do absurdo está num dos maiores escândalos nacionais: professor se aposentar antes dos 50 anos e, depois, fazer concurso na universidade para ganhar duas remunerações.

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