São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Plantação de coca destrói invade selva Amazônica

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN

Plantação de coca invade selva Amazônica
Traficantes derrubam mata na Colômbia, sofrem represálias do governo e começam a abrir plantios no Brasil
Plantações de coca já provocaram a destruição de pelo menos 320 mil hectares de selva na região da Amazônia colombiana, o equivalente a 2.000 parques Ibirapuera.
Para escapar da repressão e controle do governo nas áreas andinas, os camponeses estão transferindo seus cultivos e abrindo regiões de colonização no Brasil.
Com a instalação de ``laboratórios" e o início de plantações no país, os especialistas acreditam que os danos já se estenderam para a Amazônia brasileira.
Na Colômbia, as plantações de coca, maconha e papoula, que empregam cerca de 300 mil famílias, já destruíram mais de 550 mil hectares de bosques e selvas. No Peru, cerca de um milhão de hectares foram derrubados pela coca.
Os danos da droga sobre as florestas vêm ocorrendo há pelo menos dez anos, mas só agora estão sendo contabilizados.
Na próxima Cúpula das Américas, em dezembro em Miami, a Colômbia vai lançar um pedido de socorro internacional para salvar a Amazônia dos estragos da droga.
O país exporta 170 t de coca ao ano (80% da produção mundial) e o narcotráfico possui 3 milhões de hectares de terras no país, a maioria virgem ou com pastagens.
Segundo organismos internacionais, 50% da cocaína exportada pela Colômbia passa pelo Brasil.
``Não podemos fazer nada sozinhos", disse Ivonne Alcala Arevalo, da Coordenação Nacional de Drogas do governo colombiano.
O alerta foi feito esta semana em Medellín (Colômbia) num encontro sobre os problemas da droga no país promovido pelas Nações Unidas e pela agência Inter-Press Service.
Sergio Uribe, especialista na substituição do cultivo de coca por outras culturas, estima que para cada hectare de folha de coca ser plantado, cinco hectares de bosques precisam são derrubados.
Segundo Uribe, a Colômbia tem cerca de 80 mil hectares de coca. O Peru, maior plantador do mundo, cultiva 200 mil hectares.
Além da derrubada das matas, a produção de drogas provoca outros danos ao ambiente. A Cedro, uma organização não-governamental de Lima, estima que 700 mil hectares de matas peruanas foram destruídos por substâncias usadas na preparação da pasta base de coca, como querosene e ácido sulfúrico.
A situação se agravou com a repressão na Colômbia. Até então, o tráfico comprava folhas de coca de camponeses peruanos e preparava a pasta na Colômbia. Agora, os próprios camponeses preparam a pasta em laboratórios na selva.
O governo colombiano, auxiliado pelo DEA (organismo dos EUA para combate às drogas), passou a utilizar herbicidas lançados por avião para destruir plantações.
Ricardo Vargas, pesquisador de uma ONG colombiana, diz que os herbicidas causam danos desconhecidos ao homem e ao ambiente.
Também a repressão aos produtores apressa a derrubada das matas. Cada vez que a polícia localiza um plantio ou se abre uma estrada próxima do cultivo, o local é abandonado e novas áreas são abertas.

O jornalista AURELIANO BIANCARELLI viajou a Medellín a convite do PNUFID (Programa das Nações Unidas para a Fiscalização Internacional de Drogas)

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