São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Corrida contra o tempo

MARCOS CINTRA

Não elegemos FHC no 1º turno para premiar-lhe com a oportunidade de fazer turismo na Praça Vermelha. Queríamos dar-lhe tempo para negociar as reformas para a estabilização e retomada do crescimento da economia.
Infelizmente, as recentes declarações do presidente eleito, de que as reformas constitucionais não recomendariam pressa, indicam que tudo ficará para mais tarde.
Foi para viabilizar a consolidação imediata do Plano Real que a sociedade se agrupou em apoio à sua candidatura. A campanha convenceu-nos de que esta seria sua prioridade. Não lhe falta competência para iniciar já os trabalhos de remontagem da economia. Mas pode estar faltando apetência.
Inúmeras medidas e decisões poderiam ser tomadas ainda com o atual Congresso. Há que vencer a implacável corrida contra o tempo em que se transformou o Plano Real. A indefinição dos rumos fundamentais da economia terão um trágico efeito na continuidade da estratégia antiinflacionária.
Na medida em que as reformas estruturais tardam –e tornam-se cada vez mais difíceis de serem concretizadas–, resta ao governo as providências conjunturais de curto prazo, como elevação dos juros e medidas administrativas para monitorar o mercado cambial e o nível de demanda agregada. Sobem os juros, cortam-se os prazos de crédito, aumentam-se os compulsórios, restringe-se o movimento de capital, reduzem-se impostos aqui, aumentam-se lá.
Qualquer analista econômico percebe o rápido esgotamento dos instrumentos do governo para domar a inflação. O Plano Real foi implementado de cabeça para baixo. A primeira fase –que seriam as reformas estruturais que eliminariam as pressões primárias da espiral inflacionária– foi jogada para a última etapa por um Congresso que se mostrou incapaz e irresponsável ao refugar diante da reforma da Constituição. O Plano Real extirpou a inércia inflacionária. Mas não aguentará mais seis meses de inflação mensal de 3%.
O ponto fundamental é que a política econômica do governo, hoje, se resume em não deixar a economia crescer. Remédio amargo, mas aceitável diante da perspectiva de imediata ação contra as fontes primárias da inflação. Mas inaceitável, caso a nova administração caminhe no sentido da indecisão e da procrastinação.

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