São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Prazo e juros encarecem as prestações

FIDEO MIYA; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA; FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros das compras pelo crediário vão subir e o valor de cada prestação vai aumentar. Estas são as duas principais consequências das medidas de arrocho ao crédito baixadas pelo governo nas últimas quarta e quinta-feira para frear o consumo.
Para o consumidor de baixa renda, o maior impacto virá do limite máximo de três meses nas compras financiadas pelas instituições financeiras.
Pesquisas feitas pela reportagem da Folha junto às lojas constataram que, até quarta-feira, uma TV de 28 polegadas da marca Gradiente, com controle remoto, podia ser comprada em 11 prestações de R$ 150,11 cada.
Agora, a menos que a loja tenha capital de giro próprio para bancar o financiamento ao consumidor, o mesmo aparelho poderá ser vendido em no máximo quatro parcelas (entrada mais três prestações mensais) de R$ 289,61 (ver tabela ao lado).
Nesse exemplo, o valor de cada prestação poderá sofrer um acréscimo de 93%, ou seja, o consumidor terá que destinar uma parcela maior do seu salário mensal para comprar a TV a prazo.
A maior parte desse acréscimo é resultante da diminuição do número de prestações. Na tabela ao lado, a reportagem da Folha baseou-se em dados fornecidos por quatro lojas –G. Aronson, Singer, Ponto Frio e Casas Bahia– para calcular os valores das prestações e respectivas taxas mensais de juros apenas com a redução do prazo máximo do crediário para três meses (Como era).
A prestação da TV, que era de R$ 150,11, aumentou para R$ 287,10 (91,26%). Com o compulsório de 15%, ela poderá ir para R$ 289,61 (Como pode ficar), com um custo adicional de 0,87%.
O compulsório de 15% sobre as operações de crédito bancário tende a produzir um aumento de 8% ao ano sobre o ``spread" –diferença entre as taxas de captação pagas aos investidores de CDBs prefixados e as de empréstimos cobradas pelas instituições financeiras–, segundo estimativas feitas pelos bancos Mercantil de São Paulo, Nacional, ABC-Roma, Itamarati e Operador.
Segundo José Flávio Ramos, diretor do Banco Nacional, uma taxa de 8% ao mês (151,82% ao ano) no crediário terá que subir para 8,69% (171,96% ao ano) apenas para compensar o compulsório.
Raul Pereira Barreto, vice-presidente do Banco Mercantil de São Paulo (Finasa), explica que esse aumento de 20 pontos percentuais na taxa anualizada do crediário decorre do fato de que, em cada R$ 100 de empréstimos, os bancos terão que captar no mercado R$ 15 a mais para depositar no Banco Central, sem nenhuma remuneração. Mas o custo de captação desses R$ 15 adicionais será repassado aos R$ 100 emprestados.
Com o compulsório de 15% e a extensão do limite de três meses para os empréstimos às empresas, o governo quer evitar que as lojas possam bancar crediários acima de três meses com prazos maiores de seus fornecedores, que seriam sustentados por empréstimos bancários de capital de giro.
Para o vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado de Moraes, as medidas têm forte impacto recessivo e eficácia duvidosa sobre a inflação. ``Em vez de diminuir a demanda e aumentar a oferta, elas reduzem ambas, sem que o aplicador tenha estímulo para poupar".
Moraes prevê um cenário perverso: ``Os custos das empresas vão aumentar e muitas delas vão perder acesso ao crédito, que vai ficar escasso". Mais: ``Com a diminuição da oferta de bens, as empresas podem aumentar os preços se o consumidor achar que poderá comprar mais caro amanhã e decidir sacar seu dinheiro da poupança".
Raul Barreto, do Banco Mercantil de São Paulo, é mais otimista. Ele prevê que haverá uma retração no consumo, mas ``um eventual efeito recessivo não vai acontecer por causa da demanda de final de ano gerada pelas vendas de Natal sustentadas pelo pagamento do 13º salário".
Barreto não identifica também nenhuma pressão de alta nos juros das aplicações no curto prazo, principalmente porque ``as estimativas do mercado financeiro são de que a inflação de novembro será menor do que a de outubro".

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