São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994 |
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Médico trata Mao como monstro
JOHN OMICINSKI
Comentando seu livro "The Private Life of Chairman Mao" (A Vida Privada do Presidente Mao), recém-publicado pela Random House, Li Zhisui disse que Mao também era viciado em remédios para dormir. "Durante muitos anos ele usou Seconal diariamente, às vezes duas ou três vezes por dia". O livro retrata um homem solitário e paranóico, um megalômano convencido de sua própria grandeza, talvez de que fosse imortal. Li trabalhou para Mao por 22 anos e não expressa qualquer admiração por ele. "Não passou de um grande ditador... Uniu a China, expulsou os estrangeiros e reprimiu os chefes militares, só isso". Mao, cujas ordens e decretos significaram a morte para milhões de pessoas, promovia bailes duas vezes por semana, que eram desculpas para orgias sexuais. Segundo Li, os bailes aconteceram durante muitos anos –ou no Grande Salão do Povo, perto da praça Tiananmen, ou no Salão do Lótus Primaveril, em sua residência particular em Pequim. "Quanto mais o partido pregava o moralismo, mais o presidente praticava o hedonismo", escreve Li. "Ele tinha um harém. Naquela época (final dos anos 60, auge da Revolução Cultural), Mao às vezes se divertia na cama com quatro ou cinco mulheres ao mesmo tempo". Mao raramente tomava banho e jamais escovava os dentes –já verdes no fim de sua vida. Li conta que Mao dava um manual sexual taoísta para suas parceiras lerem e não se importava com o fato de o sexo grupal espalhar doenças venéreas entre as jovens. Ele também se relacionava sexualmente com rapazes. No campo político, Mao insistiu em programas mal planejados, apesar de saber que não dariam certo. No "Grande Salto para a Frente" (fim dos anos 50), camponeses foram arrancados de suas atividades para passar a fabricar aço em fornalhas de fundo de quintal. Eles fundiram ferramentas agrícolas e queimaram seus móveis para satisfazer as quotas. Logo ficou claro que o plano resultaria em anos de fome, diz Li. Mas Mao se recusava a recuar. "Grande parte das safras ficava sem ser colhida, porque tantos homens haviam ido para as fornalhas". Milhões morreram de fome. "No dicionário de Mao não havia palavras como remorso, derrota ou fracasso", disse Li em entrevista na sede do "U.S. News and World Report", que publicou trechos do livro. Mao se achava "superior a todos os chineses". Falando sobre a bomba atômica com o líder indiano Nehru, em 1954, Mao disse que "a China não pode ser destruída por uma bomba... A morte de 10 milhões ou 20 milhões não nos assusta". Três anos depois, em Moscou, Mao disse que estaria disposto a ver metade da China (300 milhões de pessoas) morrer por sua causa. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Prefeito é esperança do Haiti Próximo Texto: Leia alguns destaques de ontem na imprensa internacional: Índice |
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