São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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LADYBUG

SÉRGIO DÁVILA

Erramos: 30/10/94
O nome completo da vocalista e letrista Ladybug é Mary Ann Vieira e não com foi publicado na edição anterior.
Ataulfo Alves. Pergunte à vocalista e letrista norte-americana Ann Marie Vieira, 21, o que ela lembra do Brasil. Ela responderá, com sotaque, o nome do sambista tonitruante dos anos 50 (``Atire a Primeira Pedra", ``Na Cadência do Samba"). Pergunte ao Brasil o que se conhece de Ann Marie Viera: quase nada. Até agora.
Ann Marie é também Ladybug (``joaninha", em inglês) e então as coisas ficam um pouco mais claras. Com o apelido, ela faz parte do grupo de rap norte-americano Digable Planets, cujos integrantes usam nomes de insetos, uma das atrações mais esperadas desta quarta, 26, e sexta, 28, na versão paulistana do 9º Free Jazz Festival.
O Digable Planets é o que há de mais novo –``moderno", se preferir– na cena musical. Expressa suas músicas em jazz rap (ou acid jazz, ou hip bop), rótulo (s) que a indústria fonográfica inventa, os rappers renegam e o público adora.
E que serve para definir uma crescente tendência de grupos de rap: gravar sobre bases sampleadas de grandes temas de grandes nomes do jazz dos anos 40 e 50. O grupo de Ann Marie é um dos principais e mais sérios. Outros são o norte-americano Guru e o britânico Us3, também atrações do Free Jazz (leia ao lado).
O que deve dar sabor especial aos dois shows do Digable Planets desta semana, porém, é o fato de Ann Marie Vieira, nascida em Washington D.C., ser filha de um carioca e uma gaúcha radicados nos Estados Unidos há 22 anos. Daí o Ataulfo Alves. Daí sua presença nestas páginas.
A reportagem a encontra no lobby do hotel Marlin, no bairro Art Deco, em South Beach, Miami. Lá fora, o inferno –seja pelo calor de 40 graus, seja pela frequência. Lá dentro: ar-condicionado a toda; MC Hammer e Ice T de som ambiente; e Stanley Wislow, empresário dos Digable Planets e sósia de Pelé, apresenta a garota. Ela é simpática, diz um ``You Know What I Mean" por frase e veste roupas largas.
Ann Marie não se lembra mais da língua dos pais. Cresceu falando português e inglês em casa, mas desde a adolescência fez a opção óbvia. A história de sua família daria um livro –ou um disco de rap.
Sua mãe, Amarina Vieira, 47, chegou aos EUA no começo dos 70. Era babá dos filhos de um casal de diplomatas brasileiros. ``O que estes brancos faziam com minha mãe é inacreditável", diz Ann Marie. Segundo ela, a dupla prometia cortar a babá ``em pedaços pequenos e guardar na geladeira", caso ela os abandonasse. E colocava Amarina para dormir no porão, no rigor do inverno de Washington.

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