São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 1994
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Seca favorece confinador

SÉRGIO PRADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os pecuaristas que engordam bois em confinamento, para venda na entressafra, nunca viveram um momento tão rentável quanto neste ano.
Na sexta-feira passada, os frigoríficos não conseguiam comprar a arroba do boi a R$ 32 e alguns negócios já eram fechados a R$ 35/arroba, o equivalente a US$ 41,17.
``É o melhor ano para os confinadores que fizeram um planejamento correto em fevereiro passado", diz o pecuarista Sylvio Lazzarini Neto, do Sindicato Nacional dos Pecuaristas de Gado de Corte.
Ele calcula que o custo de produção no confinamento ficou entre US$ 21 e 22 por arroba este ano.
A situação nesta entressafra é totalmente inversa em relação a 93, quando as intensas chuvas durante todo mês de setembro alagaram os currais.
Isto obrigou os criadores a vender por US$ 22/arroba animais que estavam, em média, com 15 quilos abaixo do peso ideal para abate.
Este ano o clima foi um aliado. Precedida de geadas, que queimaram os pastos no inverno, a seca é apontada pelos pecuaristas como o fator determinante para a pouca oferta e o aumento do preço.
``O quadro já era de alta, mas a estiagem foi determinante para a elevação do preço do boi gordo", afirma Sérgio Ribeiro, administrador da fazenda São Joaquim, de Pereira Barreto (SP).
Ribeiro revela que a propriedade confinou este ano 12 mil bois, de maio a julho, sendo colocados nos currais em lotes a cada 15 dias.
Esta estratégia garantiu a comercialização aos poucos, de agosto a dezembro. ``Mesmo não obtendo o preço no pico para toda a oferta, procuramos diminuir os riscos, que em qualquer confinamento são altos", explica Ribeiro.
O criador Cesário Ramalho da Silva, diretor da Sociedade Rural Brasileira, alerta que a seca trará dificuldades no próximo ano.
``As vacas produzirão menos bezerros e os bois para a próxima safra estarão em piores condições, sem falar no gado que está morrendo de fome e sede", diz.
Cálculos ainda preliminares e não-oficiais, realizados por Ramalho da Silva, apontam que a seca já dizimou mais de 1% do total do rebanho nacional, estimado em 150 milhões de cabeças.
O pecuarista Antônio Luiz Cadorin confirma esta expectativa e diz que Goiás e Triângulo são as áreas mais críticas.
Segundo ele, pequenos proprietários destas regiões, que possuem entre 30 e 50 cabeças, já perderam até 10% dos animais, pois não têm pasto nem condições de comprar rações.

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