São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 1994
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Escondendo o jogo

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Até o começo da noite de ontem, o ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, fazia suspense sobre as conversas reservadas que manteve aqui no Rio com os comandantes militares da região e também com o chefe local da Polícia Federal.
Silêncio suspeito, este do ministro. Afinal, toda a expectativa que girava em torno de sua visita ao Rio –em meio à onda de violência e com o objetivo de discutir estratégias de ação– tinha uma única origem: a necessidade, por parte da população, de uma sinalização efetiva do poder público. Alguma coisa que oferecesse um mínimo de esperança tranquilizadora.
Mas não. O ministro mandou avisar aos jornalistas que só falaria após haver-se com o presidente da República. Limitou-se a afirmar que ``a reunião foi muito produtiva".
Em tese, tudo bem. Na prática, tudo mal.
O que mais se faz necessário hoje para o encaminhamento equilibrado das soluções para a violência no Rio é exatamente a transparência dessas ações.
O grau de conflagração que vive a cidade tem uma de suas vertentes justamente na impunidade protegida pelo ``sigilo profissional" das polícias. É apenas um dos ramos, mas muito importante.
Assim como é importante lembrar que em tempos recentes e de triste memória, ministros e militares faziam reuniões secretas cujos resultados quase nunca tinham a ver com liberdade e cidadania.
Lembram-se do ex-ocupante da pasta da Justiça Armando Falcão? Pois bem, toda vez que ele se reunia com militares e saía com sua famosa frase –``Nada a declarar"–, os pilares da democracia tremiam fortemente.
Os tempos são outros, sabe-se. E a atitude do ministro pode apenas ser excesso de zelo hierárquico.
Mas a opinião pública tem o direito de exigir mais transparência e efetividade. A insegurança e a ansiedade em que vive o chamado cidadão comum requerem isto.
Além de tudo, prestar contas de suas ações é uma obrigação do funcionário público alçado a função tão importante e, principalmente, num momento tão dramático para o Rio e para o país.

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