São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 1994
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Daqui a dois anos

CLÓVIS ROSSI

PRAGA – É o meio de uma tarde agradabilíssima de outono na encantadora capital da República Tcheca. Fernando Henrique Cardoso está caminhando pela Karluv most (a Ponte Carlos), cuja forma final teve sua construção iniciada em 1342 e ficou pronta no início do século seguinte.
De repente, um trio de turistas catarinenses reconhece o presidente eleito, se aproxima e o rapaz dispara: ``Esperamos para votar e ganhar para só depois viajar".
FHC agradece, mas, ao prosseguir na caminhada, reflete em voz alta: ``Agora, é assim. Quero ver como será daqui a dois anos".
É a primeira vez, pelo menos em público, que o presidente eleito dá algum sinal de inquietação, de preocupação com o gigantesco desafio que terá pela frente a partir de 1º de janeiro.
Até agora, talvez porque ainda venha no embalo de uma campanha em que vender otimismo era a palavra de ordem, ele afastava rapidamente da conversa qualquer discussão em torno das óbvias dificuldades que virão.
Não vê problemas no Plano Real nem no Orçamento (pelo menos não para 1995) e demonstra uma confiança nos partidos que o apoiaram e no Congresso como um todo que vai muito além do que é razoável esperar-se de uns e de outros.
FHC não falou nada, mas é muito provável que esse sentido de responsabilidade, de imensidão da tarefa à frente, tenha ficado mais aguçado alguns quilômetros mais adiante.
Na Staromestské námesti (praça da Cidade Velha), um grupo de turistas baianos encontra o presidente. Agradecem pela estabilidade da moeda. O casal Válter e Lígia Cunha não esconde as lágrimas.
FHC notou. Parecia também emocionado. Talvez seja o fato de estar chegando ao final da última viagem de turismo que poderá fazer durante os próximos quatro anos. Parece ser o tempo para começar a semear. Da semeadura, vai depender o que dirá dele o trio de turistas catarinenses daqui a dois, três ou quatro anos.

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