São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Gêmeas ganham juntas R$ 20 por mês

Menores trabalham até 10 horas por dia costurando sapatos

DA FOLHA NORDESTE

O pesponto, fase de produção do calçado feita de forma manual e mecânica nas bancas de Franca, leva crianças e adolescentes a uma jornada de até dez horas de trabalho por dia.
A dona-de-casa Ana Maria de Jesus, 45, colocou a filha Luciana, 13, para trabalhar em uma banca para a menina ``aprender uma profissão".
Luciana trabalhou durante dois meses, mas saiu porque não recebeu nenhum dinheiro pela experiência. ``Ela estava aprendendo", diz a mãe.
Há dois meses, Luciana está trabalhando em uma nova banca de pesponto. ``Agora estou aprendendo a colar sapatos", diz. Luciana, que abandonou os estudos, ganha R$ 20,00 por mês pelo trabalho diário das 7h às 17h. ``Preciso trabalhar, não estudar", diz Luciana.
Sua irmã gêmea, Luciene, 13, está cursando a 4ª série. Depois das 12h, vai junto com Luciana para a banca de pesponto. Por enquanto, Luciene está trabalhando de graça. ``O importante é aprender alguma coisa na vida", diz.
Jucieldo dos Santos Guimarães, 9, estuda à tarde. Antes de ir à escola, costura sapatos para a mãe, Ana Lúcia dos Santos Guimarães, 35.
A mãe conta ainda com a ajuda de mais dois filhos no trabalho de terceirização –Junior Vagner, 12, e Janecleia, 14. Todos estudam, mas antes e depois das aulas, a obrigação principal é costurar e colar calçados. ``Não tem tempo para brincadeiras", diz a mãe.
Com as mãos calejadas e machucadas por agulhas, Janecleia diz que sonha em ser médica. ``Quero salvar a vida das pessoas. Não quero nem pensar em fábrica de sapato."

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