São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994 |
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Vida tem `zonas de sombra'
ANDRÉ FONTENELLE
Hoje, jornalistas e autores de "A Mão Direita de Deus", os três perderam sua fascinação, após investigar "zonas de sombra" do passado do presidente. Faux alfineta Pierre Péan, acusando-o de dar a "versão oficial" de Mitterrand. Leia a seguir trechos da entrevista à Folha. Folha - Por que só agora surgem livros sobre o passado de François Mitterrand? Emmanuel Faux - Houve outros livros, nos anos 70 e 80, em que já se tentava compreender sua atitude sobre os anos da guerra. Mas chegamos a um momento particular, o fim de seu mandato. As pessoas falam mais facilmente o que talvez não dissessem antes. Documentos são mais numerosos. Folha - O presidente os ajudou em sua pesquisa como ajudou Péan? Faux - Não da mesma forma. Nós o encontramos uma vez e ele logo compreendeu, a partir de nossas perguntas, qual era nosso objetivo. Ele nos disse -é a primeira frase do livro: "Percebo como vocês encaminham as perguntas. Vocês querem fazer meu processo". Negamos e a entrevista foi cordial. Pedimos outra entrevista meses depois e não a obtivemos. Porque ele sabia aonde queríamos chegar. Certas pessoas de seu círculo se recusaram a nos ver. É lógico. Não procuramos ser mensageiros de Mitterrand como Péan. Folha - Em que versão o senhor acredita? Faux - Há zonas de sombra na cronologia. Mitterrand demora a entrar na Resistência. Ele não pode ter ignorado as leis anti-semitas de Vichy, em 1942. Ele estava na administração central. Morou com uma família judia ao fugir da Alemanha e diz que essa família nunca lhe falou das leis anti-semitas. Realmente espantoso. Folha - Há quem diga que Mitterrand queria se igualar a De Gaulle e ser presidente. Por que escolheu os socialistas? Faux - Talvez porque De Gaulle assombre a carreira de Mitterrand. Isso fica claro a partir de 1958. Mitterrand pode ter pensado que a única maneira de desafiar o general seria ser seu desafiante oficial. Folha - Mitterrand teria favorecido a extrema direita? Faux - Ele não fabricou o fenômeno Le Pen. Há razões econômicas e sociais para explicar o crescimento da extrema direita. Mas, no plano tático, claro que Mitterrand favoreceu a emergência da Frente Nacional. Primeiro permitiu a presença de Le Pen na televisão em 1982. Ele sabia que o PS ia sofrer desgaste. Pensou: }Posso utilizar a FN para dividir a direita. Folha - Por que ele escolheu falar do passado agora? Faux - Ele disse: "Não me interessa mais o que escrevem sobre mim". Ao ver sua reação aos livros, notamos que não é bem assim. Ele sabe que vai entrar para a história. Decidiu retificar a imagem antes que fosse tarde. (AFt) Texto Anterior: Livros tratam de relação com a direita Próximo Texto: Presidente enterrou socialismo ortodoxo Índice |
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