São Paulo, terça-feira, 1 de novembro de 1994 |
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Bertolucci vai filmar continuação de '1900'
INÁCIO MUZZI; RUI NOGUEIRA
O diretor de "O Último Imperador" e "O Pequeno Buda" vem ao Brasil aconvite do ator brasileiro e amigo Joel Barcelos. O convite, feito durante o festival de Taormina, na Itália, foi aceito por dois motivos: porque Bertolucci vem conversar sobre um outro amigo, Gianni Amico, e porque ele anda particularmente interessado por Brasília. A 27 ª edição do Festival de Brasília organizou uma homenagem ao diretor italiano Gianni Amico, morto em novembro de 90. Íntimo de várias personalidades brasileiras –de Glauber Rocha a Caetano Veloso– Amico foi um dos arautos do Cinema Novo na Europa. Para o debate "Encontro com nosso amigo Amico", Bertolucci pediu que fossem convidados cineastas, músicos e compositores que integraram a geração romântica que fazia do cinema arma de intervenção e transformação social. Joel Barcelos, que Bertolucci dirigiu em "O Conformista" (1970), é o curador da homenagem a Amico. Além dos amigos brasileiros, ele juntará no debate a viúva (Fiorella Amico) e o filho (Olmo). O festival exibirá vários filmes do cineasta, que dirigiu duas produções sobre o Brasil, "I Tropici" e "Aí Vem o Samba". "Direitização" Bertolucci revelou seus planos sobre a continuação de "1900" e as angústias sobre a vida política na Itália na casa de Fiorella Amico, em Roma. Ele disse a Joel Barcelos que a herança de luta pós-Segunda Guerra foi esquecida e vê na continuação do filme um bom álibi para reabrir a discussão. O diretor italiano não se conforma com o rumo da vida pós-queda do Muro de Berlim e vai tentar intervir com a ferramenta que melhor domina, o cinema. Bertolucci vive entre o espanto e a indignação com o comportamento da juventude italiana que vota à direita, inclusive nos neofascistas. Realizado em 76 e chamado por alguns críticos americanos de " 'E o Vento Levou' italiano", o filme "1900" tem uma versão original de cinco horas e 20 minutos e mostra a evolução da consciência política do início do século até o final da Segunda Guerra Mundial. Ambientado no norte da Itália, região em que o antigo PCI (Partido Comunista Italiano) arregimentou uma vasta militância, o filme põe em confronto a trajetória de dois personagens que nascem no mesmo local, e, depois de uma amizade circunstancial, seguem rumos políticos diferentes. O operário Olmo (interpretado por Gérard Depardieu) e o aristocrata Alfredo (Robert De Niro) protagonizam o conflito entre a burguesia e o operariado. "1900" não termina com a vitória do burguês e não esconde a simpatia pela trajetória do operário.' Assim que terminar a continuação de "1900", Bertolucci pode mergulhar em um projeto sobre a cidade de Brasília. Ele acabou de ler um ensaio do escritor norte-americano John Updike sobre a cidade e anda às voltas, agora, com os poemas da também norte-americana Elizabeth Bishop que viveu durante muito tempo em Ouro Preto (MG). Colaborou RUI NOGUEIRA, da Sucursal de Brasília Texto Anterior: Mostra reverte fundos para campanha contra a fome Próximo Texto: Curta proibido de Glauber sobre Di Cavalcanti é exibido em Brasília Índice |
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