São Paulo, terça-feira, 1 de novembro de 1994
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Intervenção já

ROBERTO LEVY

Intervenção não tem nada a ver com violência e sim com o uso da força para cumprir a lei
O que mais precisa acontecer? Mais crianças mortas por balas perdidas? Mais cidadãos pobres morrendo nas portas e dentro dos hospitais? Mais guerras entre as centenas de quadrilhas de traficantes? Mais fraudes eleitorais?
Mais arrastões nas praias e em vários outros locais? Mais assaltos a carros-forte e ônibus? Mais assassinatos de inocentes nas ruas e nas casas?
Mais fuga dos presídios e dos centros de menores infratores? Mais epidemias por falta absoluta de saneamento básico? Mais ruas e principais vias de acesso fechadas por causa de tiroteios?
Acabamos de eleger um novo presidente da República no 1º turno, o que legitima totalmente o próximo governo federal. Estamos às portas de eleger o novo governador e continuamos sob a direção de um prefeito também eleito democraticamente pela população.
A esses três homens devemos todos enviar cartas e telegramas exigindo o fim da impunidade e a imediata intervenção militar no Estado para termos alguma chance de continuarmos vivendo como seres humanos.
A população mais carente deveria ser a primeira a pedir a intervenção pois todos os serviços públicos estão falidos e o povo não tem saúde, educação, transporte, habitação e saneamento básico. As eleições foram fraudadas e as quadrilhas fraudadoras, presas em flagrante, foram quase todas já libertadas.
A intervenção federal já se concretizou em várias ocasiões e Estados, por motivos infinitamente menores que os que afligem nossa cidade e Estado.
Nenhum democrata pode permitir a existência do atual estado de anarquia e impunidade. Todos os verdadeiros democratas têm a obrigação de lutar pelo fiel cumprimento das leis, que é a única exigência da sociedade civil organizada.
Intervenção não tem nada a ver com violência, e sim com o uso da força para cumprir a lei doa a quem doer com o objetivo de proteger os cidadãos que pagam impostos à máquina do Estado e por isso exigem segurança e serviços.
Chega de tanta violência e impunidade. Vamos todos iniciar uma reação que não pode partir do armamento da população, mas sim pela ação das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que, numa ação coordenada, serão capazes de ajudar as nossas Polícias Civil e Militar e a própria Polícia Federal a se reestruturarem em novas bases, a fim de darem melhores condições aos seus policiais e consequentemente uma efetiva proteção à população.
Fomos capazes de derrubar um presidente e não somos capazes de nos unir para acabar com a impunidade e a violência? Vamos passar um atestado de total incompetência à sociedade civil organizada? Será que nem numa guerra somos capazes de manter-nos unidos e ficamos divididos por ideologias e separados em direita, centro e esquerda? Será que ideologia tem a ver com cidadania? Cidadania é privilégio de alguma doutrina ideológica?
Lugar de bandido pobre ou rico é na cadeia, fraudadores de eleição, do FGTS, do INPS e de tantos outros setores são bandidos iguais aos traficantes. Não existe contraventor legal, assim como não existe bandido-cidadão.
A cidadania pressupõe qualquer tipo de trabalho em atividades lícitas sem conivência com nenhuma ilegalidade. A quase totalidade de nossa população é composta de trabalhadores, cidadãos sérios e honestos que desejam viver numa sociedade mais justa e menos violenta.
O Brasil é o único país do mundo onde se confunde força com violência, legalidade com ilegalidade, ética com populismo e democracia com anarquia.
Nosso povo ainda pensa que democracia é poder fazer tudo o que se tem vontade de fazer, sem se preocupar com os outros. Democracia é o governo eleito pelo povo e permanentemente cobrado e fiscalizado por esse mesmo povo que o elegeu e que o sustenta com os seus impostos. Nossas autoridades são todas nossos empregados.
Ninguém imagina uma intervenção militar com a destruição das favelas, mas sim uma ação de força para libertar as populações faveladas do reinado de terror do crime organizado.
A guerra civil na cidade do Rio de Janeiro começou há alguns anos. Misteriosamente, até hoje ninguém se revoltou contra essa guerra que é declarada, violenta e criminosa a ponto de fazer mais vítimas nos últimos 12 meses do que a guerra civil na Bósnia. A anulação das eleições por si só já justifica uma intervenção imediata!

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