São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exército exclui Rio de planejamento

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O plano de combate à criminalidade carioca está sendo montado à margem do governo do Rio. O Exército desconfia da polícia carioca e teme que informações consideradas estratégicas acabem nas mãos dos comandantes do tráfico de drogas.
As Forças Armadas possuem em seus arquivos dossiês sobre a situação do crime no Rio. Um dos pontos realçados nos documentos é a deterioração moral das polícias Civil e Militar do Estado.
Os dados à disposição dos militares incluem de meras informações publicadas pelos meios de comunicação a "informes confidenciais" elaborados graças a um trabalho de espionagem nas favelas cariocas.
Apontam-se detalhes não necessariamente inéditos sobre as modalidades de corrupção da polícia –desde a venda de mandados de prisão a traficantes, até o pagamento de propinas a agentes e delegados.
O trabalho de coleta de dados não é novo. Vinha sendo feito especialmente pelo Ciex (Centro de Informações do Exército).
Apegados ao preceito constitucional que prevê a utilização das Forças Armadas para a manutenção da ordem interna, os militares consideravam a hipótese de serem acionados para combater a onda de crimes no Rio.
Reservadamente, oficiais afirmam que a reputação dos militares está em jogo no Rio. Por isso cercam a operação de cuidados especiais.
O Ministério do Exército encomendou ao Comando Militar do Leste, sediado no Rio, um plano centrado nas chamadas ações de "inteligência".
Esse tipo de estratégia despreza o espetáculo –invasões apoteóticas de morros, por exemplo–, valorizando ações mais lentas, meticulosamente planejadas.
Por isso selecionou-se o general Roberto Jugurtha Câmara Senna, 53, para o comando da operação.
Até março deste ano, antes de ser promovido a general, Senna trabalhava no setor de planejamento do Comando do Leste. É tido como um estrategista.
Embora desconfie da idoneidade de parte da corporação policial do Rio, o Exército não pretende dispensar o auxílio da Polícia Civil e Militar.
Como não se trata de uma intervenção, mas de um convênio do governo federal com a administração estadual, o Exército não poderá afastar dos quadros da polícia os agentes que considere corruptos.
Apenas se tentará fazer um trabalho de seleção dos agentes a serem atraídos para a operação de combate conjunto à criminalidade. Será montado, de resto, um sistema de filtragem das informações, para impedir que dados estratégicos sejam manuseados por pessoais inconfiáveis.
Há, por parte das Forças Armadas, nítida desconfiança em relação à polícia. Os papéis do Exército incluem "distorções" detectadas inclusive na fase em que Nilo Batista, atual governador carioca, comandou a Polícia Civil.
Em meio aos "desvios" de conduta policial, o Exército identifica uma ilha de eficiência no Serviço Reservado da Polícia Militar do Rio, a chamada P-2.
O plano do Exército prevê alterações mínimas no cotidiano do Rio. Considera-se que a operação será tanto melhor sucedida quanto menos incomodar a rotina da cidade.

LEIA MAIS
Sobre a ação federal no Rio nas págs. 2 e 3

Texto Anterior: Franco Montoro visita fábrica em São Paulo; País vai ter rede de computadores ampliada; Sequestradores ficam 6 dias sem contato
Próximo Texto: Comando não foi unificado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.