São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Polícia fornecia armas, diz ex-informante

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército obteve informações vinculando policiais civis que até o ano passado trabalhavam na DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) ao fornecimento de armas contrabandeadas aos traficantes radicados nas favelas cariocas.
A existência do elo entre policiais e a entrada ilegal no país de armamento sofisticado foi passada a oficiais do Exército pelo ex-informante da polícia Ivan Custódio Barbosa de Lima.
Considerado pela Procuradoria Geral de Justiça a mais importante testemunha de crimes cometidos por policiais no Rio, Lima foi interrogado anteontem durante sete horas na sede do Comando Militar do Leste (centro).
O interrogatório teve por objetivo listar os policiais civis e militares que, segundo Lima, vendem metralhadoras, pistolas e fuzis aos traficantes.
Lima disse aos oficiais que policiais civis viajam para os EUA a fim de comprar carregamentos de armas, que estariam entrando no país pelo aeroporto internacional do Rio.
Ele acusou o inspetor Gerson Muguet, da Polícia Civil, de chefiar o grupo que fornece às quadrilhas fuzis AR-15, pistolas 9 milímetros (fabricados nos EUA) e metralhadoras israelenses. Muguet teria até casa em Miami, disse Lima.
O suposto envolvimento de Muguet no contrabando de armas é investigado pela Polícia Civil desde o ano passado. Ele foi afastado da DRE, assim como cinco policiais de sua equipe e os delegados Antônio Nonato e Orlando Corrêa, também apontados por Lima como envolvidos.
À Corregedoria de Polícia Civil, Muguet negou a acusação, que creditou a uma vingança de Lima.
Outro suposto envolvido na entrada ilegal de armas é o detetive Luiz Eduardo Sato, preso em 5 de fevereiro ao sair do morro do Andaraí (zona norte) em um Opala da 37ª DP (Delegacia de Polícia), na Ilha do Governador (zona norte).
A polícia informou que no porta-malas do carro havia 2.000 cartuchos de munição para armas importadas e 22 kg de cocaína. Segundo Lima, Sato integrava uma quadrilha de policiais que fornecia drogas e armas aos traficantes.
Lima trabalhou 15 anos como informante policial. Com medo de ser morto por saber demais, ele se entregou ao serviço secreto da Polícia Militar. Seus depoimentos relacionam dezenas de crimes cometidos por policiais, como a chacina de 21 moradores da favela de Vigário Geral, em agosto do ano passado.
(ST)

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