São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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Mau começo

Começa mal a suposta colaboração entre as Forças Armadas e o governo do Rio de Janeiro para tentar pôr um fim à violência que assola a cidade. Em primeiro lugar, o governador fluminense, Nilo Batista, ficou sabendo o nome do militar que deverá coordenar as ações policiais pela imprensa. É, no mínimo, uma descortesia do governo.
Igualmente indelicada, embora corrigida a tempo, foi a atitude do Planalto de não convidar, até a manhã de ontem, um representante do governo fluminense para participar da reunião vespertina entre Itamar, os ministros militares e da Justiça e o general Câmara Senna, comandante da operação no Rio.
Tampouco a administração fluminense vem dando sinais de que está disposta a colaborar seriamente. Nem que fosse apenas para mostrar boa vontade, Batista deveria ter ordenado às polícias que se limitassem ao policiamento ostensivo e às investigações de rotina –sem nenhuma operação pirotécnica de maior envergadura– até que Câmara Senna assumisse e desse suas primeiras ordens.
Parece igualmente contraproducente a atitude do governador de nomear seu secretário de Justiça, Arthur Lavigne, coordenador das corporações policiais do Estado, ou seja, mais um intermediário entre o general e os policiais. Dá-se assim mais um passo para criar uma distância ainda maior –e mais burocracia– entre o general e os seus supostos comandados, os policiais.
Este mau começo, como todos os demais, tem lá suas razões de existir. Batista está certo ao reclamar do tratamento que vem recebendo do governo federal e do Exército. Goste-se ou não, ele ainda é o governador do Rio, que não está sob intervenção. Também as Forças Armadas têm bons motivos para não confiar nos quadros da polícia carioca. A conivente ineficiência de policiais corrompidos foi um dos fatores que levaram o Rio à terrível situação em que hoje se encontra.
As razões de cada parte pouco importam agora. Uma coisa é certa. Se não houver uma sincera, honesta e eficiente colaboração entre as forças federais e as estaduais, é melhor que todos voltem para suas casas, poupando-se de um vexame e não importunando ainda mais a população carioca, que, como se sabe, já tem problemas de sobra.

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