São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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O eclipse e os sinais dos tempos

JOSÉ SARNEY

Cientistas do mundo inteiro vieram ao Brasil para assistir ao último eclipse total do Sol neste milênio. O próximo só ocorrerá daqui a 50 anos.
O homem, desde os tempos imemoriais, é afeito a interpretar a posição dos astros e suas possíveis influências sobre a vida na Terra e até mesmo sobre o destino humano. Essa crença só fez se consolidar na antiguidade clássica e sobretudo na Idade Média.
Todos davam muita importância aos sinais que vinham do céu.
Até mesmo o padre Antonio Vieira, em sua teologia visionária e milenarista, teceu comentários acerca das escrituras a partir dos conhecimentos acumulados, à época, relativos à astronomia. Para ele, assim como Deus estabelece a lei do tempo na natureza, há de estabelecer igualmente a do movimento no espaço na sucessão dos impérios, à semelhança do movimento dos astros, até chegar-se ao quinto império no mundo.
Por outro lado, na suposição de um cataclismo provocado pela colisão de um cometa, ele já vaticinava: "... como se Deus houvesse de acender no céu ociosamente um corpo tão prodigioso".
Assim, os astros sempre deram elementos para as mais variadas "leituras" sobre a história natural e social dos povos.
No que nos concerne, podemos propor uma interpretação otimista dos fenômenos naturais. Leio na Folha, por exemplo, declarações do deputado Roberto Campos em uma análise cuja terminologia vem de empréstimo, creio eu, da astrofísica. Com efeito, diz ele que o Brasil tem chance de participar da "quarta onda sincrônica de desenvolvimento".
O mundo, assim, estaria vivendo, pela quarta vez, um momento em que há crescimento econômico nas principais regiões de nosso planeta. Segundo Campos, o Brasil lamentavelmente não participou da "terceira onda", que teria ocorrido nos anos 80, mas bem poderia participar desta. Realmente, os Estados Unidos retomaram o crescimento e a Europa já dá sinais de estar saindo da recessão.
Vejo na imprensa que o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, declarou na Argentina que o Brasil "deve crescer, importar, exportar, intensificar suas relações".
Esta disposição do presidente eleito augura bons tempos, constitui um presságio muito favorável.
Depois do eclipse, o Sol haverá de brilhar cada vez mais para um maior número de brasileiros. Bons sinais no céu do Brasil.

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