São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Classe média quer voltar a ter poder de compra, aponta pesquisa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento do consumo verificado desde o real não é uma onda especulativa. Resulta da vontade da classe média de recompor uma situação arrebentada por três anos de crise. E revela confiança na estabilidade da moeda.
Essa é a conclusão de pesquisa feita pelo IPSA Group, instituto sediado em São Paulo e instalado em outros nove países latino-americanos. O trabalho, anual, capta, além das opiniões, os valores que norteiam a vida das pessoas.
O presidente do IPSA Group, Miguel Gorfinkiel, lituano de nascimento, argentino de formação e brasileiro há 20 anos, está seguro de que não existe um consumismo oportunista.
Segundo diversos analistas, o consumismo do momento seria oportunista porque baseado na convicção de que o Real tem vida curta. Assim, seria melhor comprar antes da inflação voltar.
Gorfinkiel discorda dessa interpretação. Diz que a classe média está fazendo aqui o que faz em todo o mundo, que é viver com o futuro, isto é, comprar a prestação.
E o comprometimento da renda futura significa que a classe média está confiando na durabilidade do Plano Real, diz o pesquisador.
Ele considera falso o argumento de que as pessoas compram porque a prestação é fixa e manterá uma mesma relação com o salário se a inflação alta voltar.
"Mas e os demais itens do orçamento. O que adianta a prestação fixa se subirem preços de alimentos, habitação, escola, transporte, serviços?", pergunta.
A pesquisa do IPSA Group mostra que a classe média não está para poupança. A adesão ao valor "segurança econômica" foi um dos itens que mais caiu na pesquisa feita este ano.
Mas tampouco há sinais de consumismo. Também estão em baixa valores como "realização econômica", "acumulação de bens" e "aparência pessoal" –itens claramente relacionados a consumismo.
Resulta daí, diz Gorfinkiel, que a classe média não vai suspender o consumo voluntariamente.
Assim, as medidas de contenção tomadas pelo governo foram necessárias. Mas, junto com a alta de cesta básica, causaram um choque negativo para uma classe média que pensava estar chegando a melhores dias.
Conclusão geral: a estabilidade da moeda será fator de estabilidade social; moeda estável mais crescimento econômico será o céu; inflação e estagnação, o inferno.

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