São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Indexação e dólar baixo são ameaça ao Plano Real
GUSTAVO PATÚ
Para o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, hoje sócio da MCM Consultoria, as principais empresas e sindicatos do país ainda insistem em tentar corrigir automaticamente seus preços e salários pela inflação mensal. "Há um hábito de indexar tudo e este hábito está arraigado na economia brasileira", avalia Loyola, para quem esse exemplo de "cultura inflacionária" poderá pôr o plano a perder se não for detido pelo governo. Segundo esse raciocínio, a reindexação da economia impossibilitaria a queda da inflação. Motivo: os aumentos de um mês corrigiriam os aumentos do mês seguinte, e assim por diante. A inflação voltaria a subir sem parar. O maior problema, para Loyola, é que a indexação é informal. Mesmo sem serem obrigadas por lei, as empresas podem elevar os salários de seus empregados pela inflação mensal –e até repassar os reajustes aos preços. Sócio de Loyola na MCM, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega acha que as pressões pela volta da indexação poderão virar um problema político para o atual governo e o próximo. Um exemplo seria a aprovação pela Câmara do projeto do deputado Paulo Paim (PT-SP), prevendo correção mensal dos salários pela inflação integral. O ex-ministro imagina outro problema da equipe com a "realidade" para breve: as pressões do setor exportador pela elevação das cotações do dólar. "Não há condições, políticas inclusive, de se manter o dólar tão baixo", diz Maílson. Para ele, tal situação poderá gerar boicote, no Congresso, aos projetos do futuro governo. O ex-presidente do BC Paulo César Ximenes acha que o câmbio é um problema não só político, mas também técnico. Ximenes avalia que o governo não tem conseguido trabalhar com a cotação do dólar que deseja. Segundo Ximenes, a concepção do Plano Real estabelecia que R$ 1,00 seria igual ou muito próximo de US$ 1,00, para que a economia utilizasse um referencial estável para os preços. Para manter as cotações nesse nível, o BC atuaria no mercado vendendo parte de seus US$ 42 bilhões em reservas, considerados excessivos. Entretanto, isso não aconteceu. O dólar caiu sem parar e o BC tem sido forçado a comprar dólares no mercado. "Espero que já no início do ano que vem comecemos a ter déficits na balança comercial", diz Ximenes. Texto Anterior: Cinco Estados conseguem rolar 100% Próximo Texto: Classe média quer voltar a ter poder de compra, aponta pesquisa Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |