São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Rio vive crise em suas instituições

DA SUCURSAL DO RIO

Não é só na área da segurança que as instituições públicas do Rio enfrentam uma crise. As denúncias de corrupção e processos por irregularidades vão do Legislativo ao Executivo, passando pelo Tribunal de Justiça. O poder público do Estado nunca esteve tão desgastado.
Duas liminares expedidas pela Justiça impedem que se consume a nomeação do presidente da Assembléia Legislativa, deputado José Nader (PDT), para o Tribunal de Contas do Estado.
Eleito por voto secreto pela maioria dos deputados e confirmado pelo governador Nilo Batista (PDT), Nader é acusado de envolvimento em fraudes e corrupção.
O candidato de seu próprio partido ao governo do Estado, Anthony Garotinho, condenou publicamente a nomeação.
O PDT é o partido que tem mais políticos incluídos na lista do bicheiro Castor de Andrade como receptores de propinas.
E pelo menos três de seus candidatos são investigados por fraude eleitoral, incluindo Nader.
No Executivo, a polícia passou para o comando das Forças Armadas. As acusações de corrupção feitas veladamente pelos militares atingem policiais civis e militares do Estado, muitos dos quais correm o risco de perder seus postos e responder a processos judiciais.
A Procuradoria Geral da República no Rio pediu ao Ministério da Justiça que intervenha na Superintendência da Polícia Federal no Estado, listando uma série de escândalos envolvendo seus agentes.
Nem o Judiciário escapa: o Tribunal de Justiça do Estado abriu licitação para a construção de uma nova sede. O resultado da concorrência, vencida pela Sergen, foi antecipado pelo jornalista Janio de Freitas, da Folha.
Caos na saúde
A crise na saúde atinge níveis tão alarmantes como os da polícia. No mês passado, a diretoria do hospital Souza Aguiar, um dos maiores do Estado, pediu demissão ao prefeito César Maia.
Motivo: a absoluta falta de condições de trabalho, que levou uma paciente a dar à luz sobre uma pia e obriga médicos a escolherem o paciente mais apto a sobreviver para ter acesso a um leito no CTI (Centro de Terapia Intensiva).
Segundo levantamento de entidades médicas, os hospitais públicos não têm condição de atender sequer a dez casos de emergência com risco de vida e necessidade de cirurgia ao mesmo tempo.
Como parte do acordo para ter maioria na Assembléia, o governo loteou o setor entre deputados ligados a Nader, resultando em abandono de hospitais e denúncias de roubo e superfaturamento.
A situação chegou a tal ponto que, assim como aconteceu no combate à violência, autoridades federais estaduais estão se unindo. No caso os ministérios públicos.
Em visita ao Rio anteontem, o procurador geral da República, Aristides Junqueira, acertou com o procurador-geral de Justiça do Estado, Antônio Carlos Biscaia, uma ação conjunta para apurar responsabilidades pelo caos na saúde e cobrar medidas do Executivo.
Política e sucessão
Mesmo medidas destinadas à moralização –como a convocação de novas eleições para deputados– são vistas com desconfiança. A decisão do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) está sendo contestada na Justiça pelos partidos.
Os partidos argumentam que o TRE não teve competência para evitar a fraude generalizada e nada indica que tenha condições de impedir a repetição do fenômeno, até porque nem sequer identificou os escrutinadores criminosos.
O Exército vai acompanhar as novas eleições, infiltrando agentes nas mesas de apuração.
Acusações de corrupção são as armas mais usadas por Marcello Alencar (PSDB) e Garotinho para se atacarem na campanha pelo governo. Isso poderá levar o governador, seja quem for, a tomar posse com a imagem já chamuscada.

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