São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994 |
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Lua de mel para Itamar
LUÍS NASSIF Há uma agenda complicada a cumprir até o fim do ano. O Real foi contaminado por três problemas sazonais –a estiagem, pressionando os preços agrícolas, a reativação da economia mundial, pressionando as commodities, e o aquecimento da demanda.Numa economia desindexada e aberta haveria pressões de preços localizadas, que se esfumariam mais adiante sem contaminar a estrutura de preços. Ocorre que, na sofreguidão de aprovar as medidas, visando as eleições, a equipe econômica não desarmou a bomba da reindexação salarial. Manteve o IPC-r com os reajustes automáticos, não se preocupou com a aprovação do contrato coletivo de trabalho e, dentro da visão tecnocrática que caracteriza esses planos, sequer pensou num trabalho didático e mobilizador, visando preparar empresas e trabalhadores para conviverem com desindexação. Agora, avolumam-se os problemas, afetando as expectativas econômicas. Apesar do economista de Bagé –ministro Ciro Gomes– sustentar que expectativa é frescura de empresário, é ela que move decisões tanto de aumentar quanto de baixar preços. Relho pode curar neurose, mas não baixa preço. Se o presidente eleito demonstrar na prática a convicção que tem no discurso, começa a virar o jogo em janeiro. A questão é saber em quanto estará o placar –contra o plano– até FHC assumir. Há urgência de se definir uma estratégia que segure o adversário inflação até a troca de governo. Essa estratégia esbarra, numa ponta, nos humores de Itamar. Apesar de exibir o semblante doce e enlevado dos apaixonados –que não têm medo do ridículo– o encanto da professorinha intelectual não parece suficientemente forte para permitir que o presidente aceite passivamente qualquer medida de transição. E essas medidas são urgentes, para impedir que o acúmulo de problemas torne o primeiro semestre de 95 muito duro. Seria o caso de se pensar seriamente em sugerir ao nosso Romeu de Fora uma turnê de despedida ao redor do mundo, uma lua-de-mel monumental, na qual pudesse exibir à sua amiga intelectual as pompas do poder, enquanto desse folga para se montar a transição. Cidadania Da entrevista de dona Neusa Helena da Cruz, que barrou o presidente da República na portaria do Cine 6, em Brasília, à repórter Mônica Gugliano, de "O Globo": 1)"Ele não tinha entrada, não podia deixar entrar mesmo. A regra é essa, serve para todos. Ele perguntou se podia sentar no chão. Eu disse que não, claro. Que comprasse o bilhete e voltasse." 2)"Acho que não é certo presidente ir ao cinema como os demais cidadãos. O presidente tem que ficar no seu lugar. Num cinema, com tanta gente, não é certo ele ir, ainda mais com uma moça que é bonitinha, mas podia ser filha dele." Num país em que personagens populares só se manifestam quando instrumentalizados politicamente, dona Neusa mostrou que cidadania é isso aí. E o presidente, aceitando as limitações, mostrou a grandeza de um nobre sueco. Texto Anterior: O SOBE E DESCE Próximo Texto: Bancos driblam o compulsório Índice |
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