São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Tratar vício custa menos que demitir

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Já se foi o tempo em que as empresas brasileiras faziam vista grossa aos funcionários dependentes de álcool, medicamentos ou drogas ilícitas.
Nos últimos anos, a tolerância de algumas organizações foi diminuindo, da mesma forma que a antiga prática da demissão dos casos de dependência menos discretos.
Tal iniciativa traz uma fria explicação: na ponta do lápis, as empresas estão constatando que tratar um funcionário dependente –principalmente se for qualificado– custa menos que demiti-lo.
Isso porque a empresa terá que investir na seleção, treinamento e adaptação de um novo funcionário –e nada impede que ele venha a ser também um dependente.
A ordem, agora, é considerar o problema como doença, tratar o funcionário e deflagrar campanhas de prevenção.
Os níveis de chefia são treinados para observar sinais da dependência em suas equipes –queda no rendimento, faltas e atrasos– e para fazer a primeira abordagem.
Em geral, os programas são dirigidos por equipes de médicos, assistentes sociais e psicólogos. Alguns deles são treinados em centros de recuperação, como a Comunidade Terapêutica Dr. Bezerra de Menezes, de São Paulo, conveniada com 75 empresas.
A Reduc (Refinaria Duque de Caxias), da Petrobrás, fez a conta. O custo do tratamento de um operador com dez anos de casa é de cerca de R$ 2.700,00. Sua demissão fica em quase R$ 4.000,00.
"O operador passa por um ano de treinamento e só pode ser considerado um bom profissional depois de mais um ano", diz Joaquim de Melo Neto, 42, médico do trabalho.
A refinaria criou seu programa de dependência química em 86 e, desde então, constatou queda do número de faltas e de acidentes de trabalho e maior produtividade.
Segundo pesquisas internas, entre 65% e 70% dos funcionários tratados recuperaram a produtividade do trabalho em um ano.
A Goodyear implementou seu programa em 92. O segundo caso de internação foi o de um gerente da área de recursos humanos, que se recuperou e foi indicado recentemente para promoção.
"Garantimos emprego, salário integral e sigilo ao funcionário em tratamento", afirma Ernani José do Prado, gerente de relações trabalhistas da Goodyear. "Mas o demitimos em caso de recaída."
O rigor das empresas é avaliado como positivo. "Os dependentes aceitam mais rápido o fato de serem doentes e a necessidade de tratamento por medo de perder o emprego", diz Paulo Viana, 50, diretor da Vila Serena, outro centro de recuperação em São Paulo.
"Ajudamos quantas vezes forem necessárias"', afirma Michel Polity, 42, gerente de saúde ocupacional da Autolatina. "Mas ele será punido se infringir as regras da empresa."

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