São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Meu caro Telê, o caso é de inspiração

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nos redutos tricolores, diz-se a "sotto voce" que isso só pode ser praga do Pimenta, o presidente mais vitorioso do São Paulo, banido recentemente do Morumbi, em rumoroso escândalo.
Não creio em bruxas. Mas, se quisermos ficar nos limites imprecisos do sortilégio, digamos que o tricolor vive uma fase crítica. Pois, fase, no futebol, embora costume vir cercada de um certo mistério, nada mais é do que um período de transição. Ninguém, por exemplo, diz que a Portuguesa vive uma fase, qualquer que seja. Que me perdoem os lusos, mas há duas décadas a Portuguesa não é campeã. Já o São Paulo vem da mais gloriosa campanha de sua história, pelo jeito, encerrada outro dia. Cabe-lhe, portanto, a expressão, reservada apenas aos vencedores renitentes; nem aos ocasionais, muito menos aos perdedores.
Logo, o tricolor está se transformando, sujeito, assim, a oscilações, ainda que não se possa precisar que o fim dessa transição seja para melhor ou pior.
Em evolução ou involução, o fato é que esse time, só na última tacada, cumpriu uma tabela absurda até mesmo para o memorável Santos dos 60, que, diziam, treinava no avião, entre um jogo e outro. Na sexta da semana passada, venceu o Flamengo; no domingo, empatou com o Palmeiras; na terça, levou um vareio histórico do Sport; na quarta, empatou com o Grêmio; na quinta, perdeu do Vasco.
Sortilégio à parte, paixão recolhida, vamos aos fatos: em cinco jogos, duas derrotas, dois empates e uma vitória. As duas derrotas foram fora de casa; um empate também, enquanto o outro foi diante do maior time brasileiro da atualidade, o Palmeiras. Já a vitória foi obtida em cima de um Flamengo em crise. Sim, mas com o tricolor jogando com um time misto.
Assim como foram os reservas –mais até que isso– que empataram com o Grêmio. Os titulares mesmo, nesse período, só jogaram contra Palmeiras, Sport e Vasco, exatamente os piores resultados –um empate e duas derrotas. Não é pouco: três jogos em cinco dias. Mas o diabo é que, contra o Vasco, Cafu, Euller, Muller, Axel, Gilmar, todos eles voavam em campo, aos 45min do segundo tempo. Não foi, portanto, falta de preparo físico.
Tampouco excesso de confiança, pois o treinador armou seu time com três volantes marcadores. O que foi, então? Pois foi exatamente isso: um falso esquema defensivo, rompido sistematicamente pelo avanço de todos os defensores ao mesmo tempo, e absolutamente nenhuma criatividade no meio-campo coalhado de combatentes. Esquema curioso esse: todos de trás saem para o meio-campo, enquanto os do meio-campo por ali ficam. Nem tem força ofensiva, nem se guarnece dos contragolpes, responsáveis pela esmagadora maioria dos gols sofridos.
Não se trata, pois, nem de maldição, nem de transição. O caso é de inspiração, meu caro Telê. Nessas horas, o melhor é socorrer-se da velha máxima do mestre Brandão:
beque é beque, atacante é atacante.

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