São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Livro narra 1 século de Israel

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O século de Israel começa e termina na Guiana Francesa. Pelo menos no livro "Le siècle d'Israel", lançado recentemente na França (editora Fayard).
Os autores, Jacques Derogy e Hesi Carmel, contam em cem reportagens curtas a história do Estado de Israel, desde a luta sionista até os recentes acordos de paz.
Eles situam o início dessa "guerra de cem anos" em 5 de janeiro de 1895, quando o capitão Alfred Dreyfus é expulso do Exército francês e enviado à prisão na Guiana. Cem anos depois, a Guiana seria palco do lançamento do primeiro satélite israelense.
"Morte aos judeus!", grita a multidão, enquanto as medalhas são arrancadas do peito de Dreyfus. A degradação do capitão revolta o jornalista austríaco Theodor Herzl, que passa a defender a criação do Estado de Israel e organiza o primeiro congresso sionista.
Derogy e Carmel forçam um pouco os fatos ao tentar situar aí o início da história de Israel, minimizando o papel dos que já defendiam o sionismo.
Apesar desse e de outros defeitos, o livro tem a emoção de um bom romance –a aventura de um punhado de sonhadores que ressuscitaram uma nação e uma língua a partir do zero.
Os autores dão algumas informações inéditas, como a intervenção pessoal de Adolf Hitler no caso de quatro judeus fuzilados durante a Segunda Guerra.
Em 1944, pára-quedistas judeus da Palestina saltaram na Eslovênia e cruzaram a fronteira húngara com o objetivo de organizar a resistência na região. Delatados por camponeses, quatro deles foram presos. O próprio Hitler decidiu pelo fuzilamento.
A revelação é mais importante do que parece: mostra que a ameaça da resistência judia inquietava o regime nazista mais do que afirma hoje boa parte dos historiadores.
Outro episódio interessante é a histórica assembléia da ONU que dividiu a Palestina entre árabes e judeus, presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, em 1947.
O livro descreve as operações de bastidores para arrancar os votos necessários à criação de Israel –um vale-tudo que incluiu "grampos" telefônicos e todo tipo de manobra parlamentar.
Mais recente é a história da Guerra do Golfo e do bombardeio de Israel por mísseis Scud iraquianos, em 1991. Israel ameaçou reagir e os EUA fizeram de tudo para evitar isso. "Temos que impedir esses filhos da puta de foder tudo", disse o general norte-americano Norman Schwarzkopf a seu colega Colin Powell.
A Guerra do Golfo foi a última grande ameaça de conflito declarado entre árabes e israelenses. Desde então, a situação evoluiu na região e Israel pode sonhar com novos séculos de existência.
Os autores imaginam a transformação do Oriente Médio na "quarta região econômica do mundo", com a criação de um mercado comum.

"Le siècle d'Israel – Les Secrets d'Une Epopée 1895–1995" ("O século de Israel –Os Segredos de Uma Epopéia 1895–1995"), de Jacques Derogy e Hesi Carmel. Fayard, 854 páginas. Preço: 180 francos (US$ 38). À venda na França.

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