São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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A fita secreta

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O Ministério da Fazenda estava ontem em polvorosa –a começar por Ciro Gomes. Foram grampeadas conversas telefônicas de altos funcionários da Receita Federal no eixo Rio-Brasília. Já começaram as demissões na sexta-feira à noite.
A suspeita é de que as fitas sirvam de fio condutor para uma rede de conivência com a sonegação de figurões do mundo empresarial. O secretário da Receita Federal, Sálvio Medeiros Costa, confirmou ontem três demissões.
Independente do resultado das investigações sobre uma eventual pista que conduza ao submundo das drogas, aproveito para afirmar o óbvio: a Receita Federal é vital no combate ao tráfico. E, aqui, suspeito que exista uma empulhação pirotécica. Explico melhor.
Os morros e favelas são apresentados como quartéis-generais do tráfico, onde morariam os chefões. Será mesmo? Qualquer menino sabe que o comércio das drogas é altamente lucrativo. Por que, então, eles viveriam numa casa com aspecto de barraco? Uma investigação detalhada vai mostrar que, nos morros, está o segundo escalão.
Os barões certamente vivem em apartamentos de cobertura ou casas majestosas, andam com carros importados, viajam ao exterior e têm negócios de fachada –é assim em todos os lugares do mundo e, claro, não é diferente do Brasil. Não seria aqui e, muito menos no Rio, que eles dariam uma lição de temperança.
Ninguém melhor do que a Receita Federal para farejar e investigar sinais exteriores de riqueza, pegando não apenas os sargentos, mas os generais.
PS – Saio hoje de férias. Gostaria, porém, de deixar registrado neste "PS" que recebi ontem informações de fontes confiáveis de que montam-se poderosos lobbies dentro do governo para se aponderar de recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador. Esse fundo é destinado a cobrir o seguro-desemprego. Um dos lobbies é feito pelo Banco do Nordeste. Em final de governo, todo cuidado é pouco.

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