São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Os gaúchos na oposição

OLÍVIO DUTRA

O PMDB saiu do governo deixando o Rio Grande do Sul sucateado e afundado em dívidas
OLIVIO DUTRA
Com uma das melhores histórias pessoais de um presidente na história da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso desempenhou nestas eleições o papel que o conservadorismo precisava que alguém desempenhasse. Nenhum candidato exclusivo dos conservadores tinha condições de vencer as eleições. As elites tradicionais do país precisavam de uma figura assim, que significasse alguma mudança, mas que assegurasse a sua proximidade ao poder, à tomada de decisões e aos cargos de direção mais importantes.
A questão agora é saber até que ponto o PFL terá influência no governo FHC. É importante nesta análise do futuro governo que se faça também uma reflexão a respeito do papel da oposição séria e responsável que a Frente Brasil Popular tem a realizar. Uma oposição propositiva, fiscalizadora e com um programa alternativo que este país só teve em raros momentos.
Queremos que este governo recém-eleito acerte muito mais do que tem possibilidade de acertar sozinho. Para isso, vamos ter duas funções importantes. A primeira é cobrar consequência ao programa de Fernando Henrique, a segunda é reafirmar nosso programa alternativo de governo.
Em suma, nosso papel é fazer pressão para que o país avance nas reformas estruturais de base. Se FHC e seus apoiadores foram eleitos para governar, a Frente Popular foi legitimada pelas urnas para fiscalizar e pressionar este governo. Assim é a democracia e, desde já, assumimos nossa responsabilidade para com ela e para com a nação.
No entanto, é bom lembrar que ainda temos eleições em 17 Estados brasileiros. Defendemos a idéia de que quanto maior for a representação dos governadores no campo democrático popular, melhor para o país. O governo federal terá mais respaldo para resgatar os direitos sociais conquistados pela população, distribuir melhor a renda, diminuir os privilégios das elites e fazer chegar, finalmente, a modernidade de fato para os setores excluídos da sociedade.
Para nós e para o povo brasileiro o acesso aos serviços básicos do Estado é a modernidade. Mas precisamos recuperar iniciativas que estimulem a ciência e a tecnologia e uma política eficaz de pesquisas e estudos dos problemas brasileiros que possa ser aplicada ao cotidiano da vida nacional.
O Brasil necessita urgentemente de uma política industrial desconcentradora do desenvolvimento e no Rio Grande do Sul se destaca uma política de incentivo à agroindústria. Políticas agrária e agrícola são irmãs gêmeas que devem alavancar este desenvolvimento.
Essas iniciativas, e só elas, poderão gerar os empregos que o país precisa, aumentar a produção, criar um mercado de consumo de massas e baratear o custo dos gêneros alimentícios, incorporando à sociedade o enorme contingente dos excluídos.
Temos certeza de que o sociólogo, o homem de esquerda, o intelectual e o presidente Fernando Henrique Cardoso governará com mais eficiência ao lado de governadores de oposição, que pressionem o seu governo no sentido das transformações que este país precisa.
Os atuais aliados de FHC já foram governo por muitos anos e não investiram neste básico. Pelo contrário, concentraram renda e abocanharam o bolo que um dia prometeram dividir. Aqui no Rio Grande do Sul, nosso adversário, o ex-ministro da Previdência, Antônio Britto, representa esses comportamentos políticos. Seu discurso é distanciado da prática de seus governos.
O PMDB diz em campanha que a saúde é prioritária, mas no governo –e já foi governo em nível nacional e no Estado– a saúde é o caos que se conhece. O PMDB saiu do governo gaúcho dizendo que tinha saneado as finanças do Estado, alguns meses depois se viu a dura realidade. O Rio Grande estava –e ainda está– afundando em dívidas e mau gerenciamento e sua infra-estrutura permanece sucateada.
A Frente Popular governa cidades de diferentes portes em nível nacional e estadual. Porto Alegre elegeu pela segunda vez consecutiva nossa proposta –um fato inédito na história da capital dos gaúchos. Um trabalho modesto, mas sério e determinado, que possibilitou a inclusão na sociedade de setores sociais historicamente excluídos e despertou a cidadania.
O orçamento do município passou a ser definido pela população, que agora decide onde são feitos os investimentos prioritários do governo. A qualidade de vida de parcela considerável dos porto-alegrenses foi elevada por sua própria ação. Um Estado baseado no diálogo e na transparência, controlado democraticamente pela população, terá muito menos distorções, será muito mais eficiente e muito menos dependente de corporações internas e externas.
Um Rio Grande do Sul governado pela Frente Popular, que representa tudo isso, servirá muito melhor ao Brasil.

OLIVIO DUTRA, 53, é candidato ao governo do Estado do Rio Grande do Sul pela Frente Popular (PT, PSB, PPS, PCdoB, PV, PSTU e PCB). Foi prefeito de Porto Alegre (1988-92) e deputado federal constituinte pelo PT do Rio Grande do Sul (1986-88).

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