São Paulo, segunda-feira, 7 de novembro de 1994 |
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Impunidade Marcelo Beraba MARCELO BERABA
Não estamos falando do Rio, nem de ações localizadas do crime organizado ou da polícia sem controle. São dados recentes do mundo do futebol. O que aconteceu na civilizada Santo André, no próspero ABC paulista, na tarde de sexta-feira, 28 de outubro, é inacreditável. Os dois homens com cara de adolescentes tentaram comprar ingressos para um jogo na sede da torcida do Palmeiras, a Mancha Verde. Um deles torce para o São Paulo. Foi flagrado com uma camisa do time por debaixo da roupa. A partir daí os dois foram encarcerados e seviciados. Há muito não se tinha conhecimento de violência tão gratuita e de cenas de barbárie semelhantes. Dois dias depois, o país inteiro assistiu novas cenas de violência, desta vez dentro do campo. Depois de uma briga estúpida foram expulsos seis jogadores do São Paulo e do Palmeiras. É de se perguntar até quando o futebol, que viveu um longo período de crise e retomou há três anos uma vitalidade que se imaginava sepultada, conseguirá sobreviver a tanta irracionalidade. A estrutura que administra o futebol está dominada pelos mesmos vícios que emperram o país. Falta profissionalismo (vide o calendário deste campeonato brasileiro), as estruturas que sustentam o esporte são arcaicas e corrompidas, os clubes estão falidos e sustentam federações que parecem máfias. Este ambiente, que não reflete a qualidade e a força de um futebol tetracampeão, favorece a impunidade que alimenta a cadeia da violência. Passaram-se dez dias e nenhum dos responsáveis pelas torturas em Santo André está preso. Edmundo, estopim da pancadaria no jogo Palmeiras x São Paulo, foi suspenso por quatro jogos e mais 30 dias e beneficiado em seguida pela suspensão da suspensão. E nenhum dos assassinos dos quatro torcedores foi identificado. Texto Anterior: Conto de fadas Próximo Texto: Os segredos da vida Índice |
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