São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Catherine, profissão terrorista

SUZANNE BREEN
DO "IRISH TIMES"

Catherine tem mais de 30 anos. Poderia ser professora ou assistente social. Mas é membro do Exército Republicano Irlandês, o IRA. Seu trabalho consiste em matar pessoas. "Participei de operações em que membros do exército britânico foram mortos. Não tenho prazer nenhum em matar pessoas. Sou católica e praticante. Mas os britânicos não têm nenhum direito de ocupar a Irlanda", diz.
A maioria dos terroristas são homens e têm dificuldade de imaginar que as mulheres possam ser perigosas. O IRA soube aproveitar isso. Suas mulheres servem muitas vezes de armadilha para atrair os soldados britânicos para encontros amorosos em que eles são mortos.
As razões de Catherine para se engajar no IRA não são diferentes das de seus companheiros homens. Sua família foi posta na rua pelos unionistas, que queriam que a Irlanda do Norte ficasse sob o domínio do Reino Unido.
Em seguida, conheceu o regime de prisão sem processo em agosto de 1971 e o "domingo vermelho" em janeiro de 1972, quando o exército britânico atirou em manifestantes católicos em Derry, deixando treze mortos.
Catherine entrou para o IRA aos 16 anos. Aprendeu a fabricar explosivos e a manejar armas. "Todos os instrutores eram homens e só uma recruta em sete era mulher. Meus camaradas eram gentis comigo, mas eu não passava de uma mulher para eles, até provar meu valor. Precisei me controlar nas missões, mostrar-me mais forte que eles para ganhar sua estima."
Pouco tempo depois, foi ferida a bala em um tiroteio com a polícia. Ela diz que apanhou e que uma ameaça sexual pairou sobre seu interrogatório. "Os policiais me trataram de 'vagabunda' e 'puta'. As mulheres detetives eram piores ainda. Disseram que eu passaria muitos anos na prisão e que sairia velha demais para ter filhos."
Ainda adolescente, Catherine foi condenada a mais de 12 anos de detenção. Ela acredita que os juízes são mais duros com as mulheres do que com os homens. Eles perguntam: "Como é possível uma jovem bonita e meiga como você ter feito uma coisa desse tipo?", ela explica.
Catherine é casada, mas a maioria das mulheres terroristas, não. Ela acha que ter filhos seria irresponsabilidade. "A cultura católica na Irlanda é muito conservadora. Uma mãe que milita no IRA é muitas vezes denegrida, porque coloca seus filhos depois do engajamento político. Mas quando um pai se junta ao IRA, ninguém diz nada. Ninguém vai dizer que ele é um mau pai por isso."

Texto Anterior: Mulheres extremas
Próximo Texto: Pesic, a guardiã da honra sérvia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.