São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Pesic, a guardiã da honra sérvia

DO "WORLD MEDIA"

Há mais de dois anos a guerra atinge as populações da ex-Iugoslávia. Apenas algumas mulheres, comandadas pela socióloga Vesna Pesic, 54, tiveram a coragem de se rebelar contra a loucura assassina de seus concidadãos. Dizem que ela e suas amigas "salvam a honra da Sérvia".
Presidente do comitê antiguerra de Belgrado, Pesic pensa sobretudo no pós-guerra. "Eu não sou otimista, tudo deverá ser reconstruído. Desejamos o fim dos conflitos, mas também tememos isso, porque esta guerra é como uma droga", diz.
Mesmo se as bombas continuam a matar mais na Bósnia do que em qualquer outro lugar, a Croácia conheceu seu horror e os sérvios que ousam se rebelar contra o regime do presidente Slobodan Milosevic não estão livres de um interrogatório duro ou de um "acidente".
Vesna, dissidente desde os anos 70, faz parte há mais de 20 anos do grupo de defensores do pluralismo e da tolerância. Quando do último encontro pela democracia em Belgrado, no momento das eleições parlamentares de 1993, ela parecia tímida entre seus colegas homens, barbudos e barulhentos. Mas era só a aparência, porque ela não se deixa impressionar.
Entretanto, esta mulher engajada, eleita deputada pelo partido de oposição Depos (oposição unida) nas últimas eleições, não é uma "militante ativa" como se poderia imaginar. É uma mulher discreta, elegante, distante, pequena, mas enérgica quando precisa explicar os objetivos de seu combate.
Ela faz parte da "Outra Sérvia" (título de uma coletânea de textos publicados no início deste ano pelos intelectuais que se opõem ao regime de Milosevic). Quando conta o começo do comitê antiguerra de Belgrado em 1992, Pesic não tenta dar a seu movimento mais importância que ele realmente tem. "Começamos com muitas mulheres e alguns homens. Era sobretudo uma ação das mulheres que recusavam a lógica da guerra. Os homens, quando se engajam, vão em geral nos partidos políticos, porque é lá que se encontra o poder. As mulheres se engajam mais nos movimentos cívicos que visam mudar a sociedade profundamente."
"Hoje a guerra nos distrai dos outros problemas", ela diz. "Mas amanhã será preciso compreender como tudo isso aconteceu." Uma de suas principais tristezas é a falta de uma mobilização massiva das mulheres. "Elas foram as principais vítimas dessa guerra. Hoje, muitas se encontram sozinhas com seus filhos."

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