São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Militares vêem 'armadilha' contra o Exército

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Militares da ativa e da reserva que acompanham a operação de combate ao tráfico de drogas e contrabando de armas no Rio acham que o Exército foi colocado em uma armadilha pelos governos federal e estadual.
A informação foi coletada ontem pela Folha junto a oficiais que preferem não ter os seus nomes revelados. São militares que se relacionam diretamente com os oficiais no comando da operação.
O termo "armadilha" é usado porque é consenso entre os militares que será praticamente impossível para o Exército resolver a situação em curto ou médio prazo.
Como o Exército está com a responsabilidade de comando, os militares acham que os governos federal e estadual se eximiriam da culpa de um eventual fracasso.
Os oficiais do Comando Militar do Leste acham que foi criada uma expectativa de que o Exército coordene uma ação direta e geral nas favelas. Mas acham isso impraticável e perigoso.
Por isso, os militares usam reservadamente o termo "armadilha". Se não conseguirem apresentar resultados visíveis ainda este mês, o Exército ficaria com a imagem prejudicada.
Se os militares partirem para uma ação prática de desarmamento dos morros –o que é descartado– poderiam provocar mortes de pessoas inocentes, o que seria uma catástrofe maior do que deixar de resolver o problema.
A solução encontrada foi conduzir a operação em marcha lenta. E sempre da forma mais sigilosa possível. A necessidade de sigilo é usada para quase tudo, mesmo que não faça sentido.
Por exemplo, o general Gilberto Serra, porta-voz oficial da operação no Rio, não revela o número total de oficiais que participarão das operações.
Ao ser confrontado com o fato de que na Guerra do Golfo (1992) os Estados Unidos sempre informaram antecipadamente o contingente utilizado, Serra não soube explicar a razão para não divulgar os dados sobre o Rio.
Nos bastidores da operação, outra crítica recorrente dos militares se refere ao que chamam de "comando bicéfalo" da operação. Ou seja, o duplo comando que existe hoje no Rio, exercido pelo governo estadual e pelo Exército.

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