São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A diversidade feminista e feminina

FERNANDA SCALZO
COORDENADORA DA EDIÇÃO BRASILEIRA

A diversidade feminista e feminina
O quanto a sociedade já mudou e o quanto ainda vai mudar com a entrada das mulheres no que era antes o mundo masculino ainda está para ser avaliado. Hoje, oito mulheres dirigem, como presidentes ou primeiras-ministras, seus países. Ironicamente, a maioria delas concentra-se no Oriente, onde as conquistas feministas dos últimos 30 anos fazem pouco ou nenhum sentido para a população em geral.
Se as norte-americanas se sentem hoje ameaçadas por um contra-ataque machista, na Índia e em outros países do Oriente a subserviência da mulher continua uma qualidade incontestável. Na China, depois de 40 anos de tabu sexual imposto pela revolução comunista, as mulheres têm a chance de redescobrir, com seus parceiros, o "amor burguês" e o prazer.
A "guerra dos sexos" é uma realidade das grandes capitais ocidentais. Mas mesmo nesse mundo desenvolvido, não há um consenso sobre o olhar da mulher em relação ao homem ou a si mesma. "Pergunto-me mesmo se não há uma verdadeira diferença nas relações entre homem e mulher dos dois lados do Atlântico", diz a escritora e feminista francesa Elisabeth Badinter, no debate com a feminista americana Betty Friedan (leia à pág. 3).
Nos Estados Unidos, feministas mais radicais têm hoje tamanha fobia dos homens que para elas todos se transformaram em estupradores em potencial. Essas interpretações exacerbadas da "guerra dos sexos" levam a um puritanismo e a um moralismo que nada têm a ver com as bandeiras feministas de 30 anos atrás.
A revolução sexual, a liberdade de escolher e variar seus parceiros como bem entenda, é hoje quase uma realidade forçada para a mulher ocidental. As paulistanas, por exemplo, quando podem escolher, preferem amor sem sexo (63%) a sexo sem amor (leia pesquisa à pág. ao lado). Segundo a sexóloga americana Shere Hite, as mulheres gostariam que "os homens esquecessem um pouco o orgasmo e se tornassem mais sentimentais" (leia entrevista à pág,. 19).
Todas essas interpretações revelam simplesmente a confusão de papéis instaurada desde que as mulheres resolveram lutar por sua igualdade. Há quem defenda que somente a revolução dindustrial e o desenvolvimento tecnológico se comparam à revolução feminista na velocidade e profundidade com que transformou a sociedade moderna.
As feministas de hoje não podem ignorar a diversidade do mundo das mulheres. Vítimas de atrocidades a até escravizads nos países islâmicos, em muitas capitais do ocidente as mulheres não são mais donas de seu destino simplesmente porque não querem.
Todas as diferenças que se localizam no dito "universo feminino" terão que ser levadas em conta por aquelas que teorizam ou trabalham na defesa das mulheres. Assim, a mulher passará a se definir mais em relação a si mesma do que por oposição ao homem. e então, como afirma Elisabth Badinter, se poderá, no próximo século, celebrar a androginia: a possibilidade de se viver os dois sexos em cada um deles.

Texto Anterior: Ford lança grife de roupas esportivas; Levorin tem modelo para motonetas; Sistema automático acende lanternas; Película auto-adesiva protege pintura
Próximo Texto: O que quer uma mulher?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.