São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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O que quer uma mulher?

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

O que quer uma mulher?
A julgar pela pesquisa realizada pelo Datafolha, Freud não deveria ter se preocupado tanto em tentar descobrir, afinal, o que quer uma mulher. A paulistan quer saúde, amor, filhos e dinheiro - valores universais.
Para ter amor, a paulistana abre mão do sexo. 63% delas preferem amor sem sexo a sexo sem amor (12%). Para ter sexo, abre mão do casamento: 56% preferem sexo sem casamento a casamento sem sexo (espantosos 26%). Mas somente para 4% das mulheres entrevistadas na pesquisa do Datafolha a satisfação sexual é importante para que se sintam felizes.
Entre os homens, os números são um pouco diferentes. 10% deles elegem a satisfação sexual como fator importante para serem felizes. 67% preferem sexo sem casamento a casamento sem sexo (13%, a metade das mulheres). E amor sem sexo (38%) e sexo sem amor (35%) praticamente empatam.
A paulistana hoje sabe que mais vale um bom emprego (84%) a um marido rico (16%). Nem com crise econômica o casamento ganha ares de instituição estável. Mas deve ser essa mesma crise que faz 65% dos homens e 61% das mulheres preferirem fazer o jantar a pagar a conta. Vale notar que no universo de renda mais alta (que ganha mais de 20 salários mínimos), os homens ainda preferem fazer o jantar (53%), mas as mulheres já preferem pagar a conta (53%).
Mas a pulistana, ao escolher seu companheiro, pouco se diferencia da mulher medieval. Assim como Inês Pereira, personagem da farsa do escritor português Gil Vicente (1475 - 1536), ela prefere um burro que a carregue (73%) a um cavalo que a derrube (16%). Explica-se: em "A Farsa de Inês Pereira", escrita por Gil Vicente e inspirada no provérbio "mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube", a personagem acaba escolhendo, em vez do homem galante que a dominava, um tipo pacato, manso - o "asno" que na cena final da peça ela acaba por, de fato, cavalgar. Note-se: o cavalo consegue sua maior preferência, 27%, entre as mulheres com nível de escolaridade superior.
Ainda que encarem um "burro que as carregue", as paulistanas surpreendem ao afirmar que, sim, é possível ser feliz sozinha: 53% delas contra apenas 34% dos homens com a mesma opinião.
Para 29% das mulheres os homens não são capazes de entendê-las e 19% dos homens se sentem totalmente encompreendidos pelas mulheres. O que se vê nas expectativas que têm um em relação ao outro. A mulher espera do homem respeito (83%) e companheirismo (71%). Os homens, em número bem menor, também acham que elas esperam essas duas coisas (respectivamente 54% e 53%), mas 26% deles acham que elas esperam também prazer - coisa que para somente 10% das mulheres é importante.
Os homens, politicamente corrtíssimos, dizem que apreciam na mulher sobretudo a inteligência (65%), depois a dedicação (47%) e a beleza (35%). As mulheres acreditam que são mais apreciadas pela beleza (54%), a sensualidade (43%) e, por que não, a inteligência (56%).
(FS)
A pesquisa do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada, sendo que o conjunto da cidade de São Paulo é tomado como universo de pesquisa. O levantamento foi realizado em ponto de fluxo populacional, distribuídos segundo critérios de divisão da cidade em zonas geográficas e classificação sócio-econômica.
Neste levantamento, realizado no dia 23 de agosto de 1994, foram entrevistado 1.077 paulistanos com idade a partir de 16 anos. A margem de erro decorrente desse processo de amostragem é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um intervalo de confiança de 95%.
A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Atnônio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi, tendo como assistentes Mauro Franciso Paulino, Emília de Franco e a estatística Renata Nunes César. A direção comercial é de Eneida NOgueira e Silva.
A coordenação desta pequisa foi de Eduardo Romano (campo), Elizabth Napier (planejamento) e Eucir de Souza (processamento de dados).

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