São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Autor considera prepotente reação a "Pátria Minha"

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ridículo. Um atentado explícito à liberdade de expressão." Foi assim que Sérgio Marques, um dos cinco autores de "Pátria Minha", reagiu quando soube que o Geledés/SOS Racismo decidiu recorrer à Justiça contra a novela da Globo.
A organização de São Paulo, que luta pelos direitos dos negros, discorda da maneira como a trama está enfocando os conflitos raciais no país.
Há seis dias, um dos protagonistas da novela, o empresário Raul Pelegrini (Tarcísio Meira), acusou o jardineiro Kennedy (Alexandre Moreno) de roubo.
A acusação, injusta, serviu de pretexto para o patrão destilar uma série de ofensas racistas contra o funcionário, que mal reagiu.
Ontem, o Geledés entrou na Justiça paulista com uma notificação contra a Globo e os autores da novela. O grupo considera que "Pátria Minha" feriu a auto-estima da comunidade negra –menos por causa dos termos que Raul usou ("negro safado", "crioulo") e mais pelo modo passivo como o jardineiro se portou diante das agressões.
Com a notificação, o Geledés manifesta oficialmente a intenção de processar a emissora por preconceito racial "caso os próximos capítulos da novela não resgatem a dignidade de Kennedy".
Para resgatá-la, avalia a organização, outros personagens negros –e não os "mocinhos brancos"– teriam que "conscientizar" o jardineiro, mostrando-lhe que foi vítima de discriminação.
"Um grupo querer nos impor os rumos da história que estamos escrevendo é cômico, se não fosse profundamente prepotente e antidemocrático", afirma Sérgio Marques.
Sem esconder a ironia, o autor sugere que o Geledés acione a Justiça norte-americana para modificar "Missisipi em Chamas". O filme, do diretor Alan Parker, retrata a intolerância racial no sul dos EUA.
"Reconhecemos a importância de se discutir o racismo numa novela da Globo", diz Sueli Carneiro, coordenadora do Geledés. "O problema é que Kennedy e os demais negros de 'Pátria Minha' comportam-se o tempo todo com submissão, não sabem se defender sozinhos. Precisam sempre que um personagem branco lhes mostre a luz. É uma visão arcaica e paternalista, típica dos velhos manuais de história."

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