São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Violência no Rio

Em entrevista publicada ontem por esta Folha, o governador do Rio de Janeiro, Nilo Batista, afirma que se planejou um golpe contra o Estado fluminense, que foi frustrado graças ao espírito democrático do presidente Itamar Franco.
De fato, ninguém é ingênuo a ponto de acreditar que toda a sequência de fatos que deu origem à atual participação das Forças Armadas no combate à criminalidade no Rio ocorreu por acaso. É evidente que poderosos interesses políticos também operaram.
É claro que setores da mídia, principalmente a eletrônica, e grupos políticos de oposição ao PDT –que não são poucos– procuraram dar visibilidade máxima às explosões de violência que aconteceram no Rio, como, de resto, ocorrem em várias outras megalópoles do país, sem, entretanto, obter a mesma exposição.
O próprio governador atribui corretamente às condições topográficas da cidade –que faz com que as favelas convivam lado a lado com os bolsões de classe média alta– o motivo de a barbárie no Rio conseguir encontrar tamanha repercussão nacional.
Ainda assim, não se pode negar que os níveis de violência na capital fluminense demandavam uma solução emergencial, com a participação mais ativa do governo federal, exatamente nos moldes da que foi acertada. Reconheceu-se a obrigação constitucional da União de combater o tráfico e o contrabando sem o exagero da decretação do estado de defesa ou da intervenção direta do governo federal.
É bastante provável até que outras cidades brasileiras estejam a merecer tratamento idêntico ao que foi dispensado ao Rio. Não existem razões objetivas para supor que as polícias paulista ou mato-grossense, por exemplo, estejam substancialmente menos corrompidas do que a carioca.
O governador Batista, entretanto, fez uma acusação –a de tentativa de golpe– grave demais para que não fosse acompanhada de nomes e detalhes. Se há alguém tentando desestabilizar a ordem democrática vigente, o governador tem o dever de denunciar, até para que o país possa se proteger.

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